domingo, 27 de março de 2022

Versos antigos


Ali, em um casaco guardado no fundo do armário, morava um papel antigo e amassado. Nele, versos tolos foram rabiscados em uma sexta-feira de novembro. De qualidade questionável, a junção de palavras se fez para que pudesse expurgar um sentimento avassalador que a consumia a cada despertar. 

Prometera que esconderia aquela suposta poesia, devido a ausência qualitativa dela. No entanto, perdeu a capacidade de escrever sobre ela e ao encontrar frases tão apaixonadas - escritas em um passado tão distante, que agora parece outrem que as criou - decide jogar para o mundo a poesia ingênua e ébria.

Uma que é cheia de saudade e aflição, é bem verdade, mas que também revela um pouco da profundidade das suas emoções daquela época. Todavia, ao jogar este rabisco para o Universo, suprime o nome  - ou sobrenome? - de sua amada, para manter alguma dignidade para si. 

Ainda assim, é totalmente possível saber como ela é chamada, apenas pelo apelido que inventou. Este que decidiu usar quando criou esta poesia, talvez. Já não tem certeza. Recorda apenas que este era o título do texto. 

Este que era quase exatamente assim:


Schmetterling I


Aguardando a doce XXXXXX

me entregar um tanto de alegria,

nesta solitária noite de sexta-feira.


É chuva triste que no peito incendia

e mesmo que em seu coração não me queira

hoje, meu pensamento clareia. 


Nas palavras não ditas, 

no infinito das horas,

nas preces malditas

onde tu não moras. 


ELP - 05.11.2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário