segunda-feira, 7 de março de 2022

Missiva confusa para início de março


Corre o mais rápido possível. Enterra a sua imagem no fundo da lembrança. Em seguida, age como se a presença dela nunca houvesse existido em sua vida. No entanto, disfarçar não é a sua maior qualidade e se esconder muito menos. Dentro dos seus sonhos, tropeça aos seus pés, contempla seus olhos e chora eternamente. E neste fiar insistente, tenta abandonar o seu posto. 

As suas escolhas são completamente contraditórias. De um lado, encontra novas possibilidades, vive intensamente, deixa os dias passarem. Do outro, o subconsciente trabalha certeiro para que não consiga esquecê-la e seu coração acelera até com alguma lembrança turva e bem guardada. Se não há como seguir com esta trajetória, por que sua mente a tortura tanto?

Ao mesmo tempo, há uma questão que a abala recorrentemente: caso siga, a outra pensará que não foi importante? Todavia, este medo é tolo, pois a borboleta, em sua terra iluminada e cheia de companhias, nem ao menos deve lembrar seu nome. E é por isso que esta rede de encaminhamentos é tão embaraçada. Existem as suas ações e os seus sentimentos. Existe o que ela pensa e sente, mas não tem como ser descoberto. 

Por isso, as angustias dilaceram o peito e o sufocamento vira costume. Queria respostas e apenas ganha mais perguntas. Mas, também deseja dizer o quanto esperou e como cessaria toda a fuga do presente momento se dissesse qualquer palavra de encorajamento. Não precisa de muito para permanecer. Sempre fora assim, sabia? Quando a fada é arrebatada, a sua devoção e lealdade são infinitas e lá fica esperando, em seu balanço imaginário.

Olhando para a lua, ela roga bem baixinho para que não necessite deixá-la no passado, que o universo crie alguma coincidência, que se encontrem novamente, que os caminhos se cruzem, que o horizonte seja resgatado. É infernal desejar algo e ter que ir para a direção oposta. A sua paciência consigo mesma e com o destino já estão por um triz. Sempre tem que selecionar a opção mais prudente e seguir para uma estação distinta.

A sua fúria é quase infantil, é daquelas que são apagadas quando a vontade é saciada. Contudo, toda a realidade cheia de júbilos e sorrisos está logo ali em frente, literalmente. Basta atravessar a rua e encontrará uma provável melodia. Mas, do que adianta? Não importa quantos prováveis amores morem em sua rua, quantos dias vão passar ou que jamais irão se ver outra vez. O relevante aqui é a sua incapacidade de seguir em frente. 

Por que? Por que toca na mesma tecla em cada alvorada? Nem seus textos estão mais belos. A inspiração secou, ela foi embora da sua trajetória e já faz tempo, ela duvida de seus sentimentos, ela não corresponde suas emoções, ela não se importa com sua existência, ela não a enxerga, ela não a deseja, ela não recorda mais do seu nome, ela nunca carregou qualquer palpitação consigo quando mirava a sua face. Não existe sonata. Não existe caminho. Não existe revoada e ventania ou um sol para encaixar dentro desta sinfonia. É apenas ilusão transformada em pó. 

É lamentável que prossiga com suas confissões e se julga em cada palavra escrita. Julga também a vida, que as colocou no mesmo espaço e que interferiu no seu olhar para o que mais amava dentro de seu labor. Agora, olha para tela e relembra de sua voz, convocando algum assunto específico, enquanto sente um suspiro que chega inesperado. 

Difícil. Difícil continuar escrevendo, a esquecendo e a amando a cada despertar. E conta todas estas tolices porque talvez ela tenha chegado até o final desta leitura com a dúvida sobre a persistência de sua paixão e espera ter respondido nesta carta confusa. Nesta junção de frases tortas e mal elaboradas. 

Depois, volta para as recordações, lembra do começo de tudo. Era somente para ser uma paixão platônica, uma fanfic, lembra?  Pois virou um melodrama solitário e melancólico, um fim de tarde de domingo, uma missiva demasiadamente emocionada, um ciclo insistente, que parece infindável. E este ano tardando em começar…

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