quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Uma pausa, uma madrugada


Primeiro, o baque. O chão se abria em mil camadas profundas, até a terra soterrar todo o corpo e mente. Como em um dolly zoom, o mundo parecia impactar com intensidade. O coração acelerado procurava escutar cada palavra vinda do outro lado. Quase sem respirar, somente queria alguma frase menos dolorosa. 

Depois, entendeu que já era final de temporada e caso fosse possível o regresso, seria em um futuro tão distante que era intangível a espera. Talvez, ainda precise de muitas missivas escritas para que possa expurgar toda a confusão e tristeza que cobriram seus passos nos últimos meses. 

No entanto, também é possível que veja, em uma data próxima, todos os sentimentos transbordantes como exageros. Mas, o que tem certeza, neste hoje que já é amanhã, é que lhe é impossível compreender como meias verdades podem habitar alguns corações. 

Existem dois rumos bastante nítidos, é bem verdade. De alguma forma, sabe que se fosse a outra poderia escolher igual. Todavia, ainda que não fosse saltadora de abismos profundos, jamais emitiria sentenças falsas. É tão insano pensar que há tanta coisa que pode estar escondida em cada esquina. 

Ela, que possui o hábito viciante de dizer tudo que passa em sua mente confusa, se questiona se agiu corretamente todo esse tempo. Poderia ela ter guardado segredos tão seus ao invés de os espalhar por cidades infinitas? Amores não eram para ser pintados em muros? Quando acaba e quando começa uma canção? Existe ponto final para uma paixão não vivida? 

O não sentir, o não tocar, o não viver, isso sim causa o desespero. Se pudesse pedir alguma coisa, pediria para o destino para ganhar uma chance de provar para si que era apenas um engano tolo. Mas, de toda forma, o gole não seria pequeno e poderia estar mergulhada em fel, neste exato instante. 

Assim, entre derrotas e vitórias, sabe que cada batalha travada com o invisível foi dignamente lutada. Por isso, tenta encerrar este ciclo de todas as maneiras que conhece. Escreve tudo que pode, em múltiplos formatos. Conta em um milhão de lugares, em todos os estilos de texto e de fala, que amou e já não pode mais amá-la. 

Chega até a conversar consigo e a pedir que pare de sonhar com a sua face. Por fim, deseja baixinho para que não tenha mais a vontade de confessar nada, que pare de abordar este assunto em seu diário, que acabe com as missivas compulsivas, que a deixe seguir pelo caminho que escolheu e tanto grita que ama. 

Se já sabe de cada detalhe que a outra esconde, se já sabe que não é a escolhida e não será, que apague cada sílaba destinada a ela. Contudo, que nunca esqueça dos momentos vividos, das preces atendidas, dos olhares silenciosos, dos instantes desarmados, dos detalhes, das suas distrações que entregavam segundos valiosos de júbilo. 

Porque, assim, conseguirá terminar a sua carta com um tom ameno, um tom que não entregue tanto o tamanho de sua decepção, de seu desmazelo. A verdade é apenas uma, porém, neste exato minuto, ela será escondida. Mas, deixa neste texto tolo uma frase sensata de acolhimento: não precisa driblar, fugir, fingir, lutar para mostrar algo encenado. No despertar apaziguado, esquecerá que um dia suas jornadas se cruzaram e deixará que vá sem desespero. 

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