terça-feira, 1 de fevereiro de 2022

O Aviso das Cartas



Regressou para o seu oráculo tão estimado. Em uma nova investigação, sentiu seu mundo estremecer e o coração se petrificando. Se no outrora tanto dependia de si, agora a cantiga se reinventa e já não há salvação possível que possa encontrar sozinha. Tudo está nas mãos da outra. Das mãos dela que fecha todos os caminhos e se tranca em sua torre de cristal cintilante. Dela que consome seus escritos, sonha com sua face, porém mente para si e se esconde em sua realidade falsa.

No entanto, existe uma jornada indicada para a fada insensata. O destino pede para ela seguir seus passos, que silencie suas palavras, que não vá ao encontro da sua amada. Neste caminhar distinto do costumeiro, há o pânico em abdicar das ações diretas. Ela que é feita de coragem e passos candentes, jamais soube como guardar para si seus sentimentos ou seguir em direção oposta aos seus desejos.

O resultado, então, é desesperador para ambos os lados. Todavia, também descobriu que a fuga da outra será incessante e que esta que um dia admirou tanto por apresentar olhares cobertos de ventania, irá se apegar ao seu reino com tamanha força, que todos os sonhos irão parecer pó. Se o encontro é realmente vindo de outros tempos, precisarão de mais uma chance, em outra época, para que possam tentar novamente. 

Contudo, implora para que a vida seja mais piedosa e misericordiosa e não coloque para si a responsabilidade de novo. Sim, tudo é confuso quando precisa apagar os versos verdadeiros e ser outra pessoa. Tudo é tão cansativo quando os espinhos são colocados na estrada. Depois, chegam as perguntas: o que fazer agora? Como prosseguir sabendo todas as respostas possíveis, mas precisando fingir não saber? Como encontrar este mistério que precisa vestir? 

Como não olhar em seus olhos e contar tudo que descobriu em sua busca boba? A única dúvida que não carrega consigo é a de saber que o tormento somente está começando e precisará apagar de uma vez esta história de sua alma. Sim, não pode esperar mais. Pois, quando a bruxa olhou para seu espelho, no passado, a sua voz era reluzente e cheia de esperança. No hoje, somente más notícias e a convicção de que ainda vai demorar bastante para que a borboleta se encaminhe para a sua revoada. 

Talvez, ela nunca se entregue para sua libertação. Como aguardar se a única solução é partir para outros rumos? A sua vontade era permanecer, era lutar para que enxergasse a vida como ela enxerga. Mas, a sua presença é apenas miragem, é distante, é insensata e cruel. Além disso, quanto mais próxima tentar ficar, mais longe a outra desejará estar. Assim, não há nada ao seu alcance para resolver esta danação infernal que já passou da hora de acabar.

E é por isso que as lágrimas chegam. E é por isso que o nó na garganta se forma. E é por isso que a tristeza toma conta do seu dia. A náusea regressa e a sua masmorra parece girar. Tudo vai dissolvendo e se transformando em uma ilusão passageira. Porque é necessário apagar tudo sobre ela dentro de si. É preciso deletar da mente o seu sorriso, sua voz, seus lábios, seu cheiro, sua maneira de respirar. 

Como em uma oração, repete diversas vezes a sua sentença, repete o quanto tem que esquecê-la, como não haverá nesta existência um reencontro. E repetirá até acreditar. E quando, finalmente, deixar esta canção de lado, saberá com todas as forças que moram nela que tentou ficar. Por fim, resta a melancolia, fica um tanto de mágoa, um tanto de tristeza e abalo. Mas, se conseguiu mexer as peças que fazem morada em sua mente, já sente algum tipo de júbilo, mesmo que minúsculo.

Porque um dia ela encontrará alguém que a faça encarar a verdade, uma paixão tão lancinante que não será como foi com a fada. Não. Será tão tão tão intenso que a outra finalmente irá tomar coragem para ser quem é e arremessar para bem longe toda a lama que cobre o seu corpo e a sua aura. E somente por isso já valeu a pena ter se arriscado tanto. 

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