quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022

Missiva incompleta


E se pudesse estar ao seu lado novamente e ressignificar toda a trajetória sonhada? E se pudesse sentir a sua respiração próxima e todos os sonhos fossem infinitos? E se lhe fosse entregue a verdade em uma só manhã de sol? Quantos minutos precisaria para que a libertação chegasse? 

Se um dia soube o que era razão, já não se lembra. Se um dia possuiu todas as certezas sobre a próxima esquina, agora, reluta em caminhar na imensidão da dúvida. Não consegue trilhar jornada alguma sem que possa finalizar a anterior. E como se finda uma noite eterna? Como se remenda uma alma cansada de lutar? 

Depois de ser confrontada, queria desvanecer diante da sua resposta. Depois de abrir os olhos outra vez, queria esquecer todo o sortilégio deste sentimento infeliz, deste desatino. Contudo, passou, não foi? Entre lamúrias, mistérios e perguntas sufocantes, mesmo sem compreender como fora o passado, sabia o que queria no presente. 

Desejava seguir em frente, rumar para novas direções, respirar suavemente, sem pesos ou amarras. É que foram meses delicados, complexos, estranhos. Foram tempos de conflitos internos e angústias. Era tanto desmazelo que, sem fome, sem sono, sem sede, vagava pela vida, com a visão turva, tonta e cambaleante. 

Todavia, se prender ao sentido de tudo isso é inútil, porque não há explicação. Ainda que estivesse preenchida de emoções injustificáveis, elas existiram. Não há razão para caçoar delas agora, somente reconhecê-las e seguir. Talvez, exista um horizonte seleto em algum canto do mundo. 

É bem provável que no despertar dos pássaros, quando ocorrer o grito final solitário, possa ter pensamentos mais concretos, possa encontrar a alegria e o rumo de novo. Ainda que sua inspiração esteja secando, ainda que precise se despedir da fábula insólita, ainda que jamais a reencontre…Ainda assim, quer mudar o rumo desta narrativa. 

Chegou a hora derradeira de seguir. Não há retorno ou salvação. É o fim de mais uma canção. É véspera de euforia pelo que virá. E no momento em que chegar, pede tão somente ao Universo que saiba administrar melhor as decisões em cada bifurcação. 

Ainda assim, precisa dizer: mesmo que nunca exista o seu regresso, reconhece que ela foi sim uma melodia. Mesmo que sem ressoar, ela preencheu cada espaço possível, foi sonata, mesmo que apenas escrita. E desta forma se despede, sem mais delongas ou mistérios, deixando florescer, mas sem explicar o outrora. 

Esta trama não pode ser mais sua. Por isso, deixa que, a partir deste exato instante, ela seja dona deste enredo fantasioso, que descubra o caminho para o desenlace. Entrega para ela o bastão e deixa que a criação completa seja sua. Quem sabe, enfim, a partir desta ação, toda a estrada possa ser recriada?

Um até breve então? 

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