segunda-feira, 7 de fevereiro de 2022

Notas sobre ela



Ela é um horizonte coberto de cores. Ela é energia que vibra no Universo e transforma todo silêncio em sinfonia dançante. Ela é o despertar da inspiração, é o soneto escrito na madrugada, é a alvorada singela de emoções pulsantes. Ela é candência genuína, é o amanhecer cálido, é luz intensa que faz qualquer júbilo acender e ser mais intenso. 

A sua voz marca o compasso de seu coração. Ao mesmo tempo, seus olhos são como um mergulho no paraíso mais inalcançável de todos. Enquanto ela existe, o sentido das coisas ganha vida, a noite é fiel, as margaridas florescem, a respiração se transforma, todo o céu canta e finalmente sabe qual o verdadeiro significado da sorte. 

Vê-la, ali, tão inteira, tão completa, tão dona de si, causa um dano quase irreparável. É como se flutuasse e se perdesse em um pensamento em looping sobre um futuro que nunca virá. Contudo, não importa. Esta informação é um detalhe diante da convicção de que ela habita o mundo e este fato já lhe é suficiente. Esta é a triste sina das apaixonadas: o altruísmo diante da impossibilidade. 

Mais fatal ainda é ler suas palavras, mesmo estando distante, mesmo que as sentenças não lhes sejam direcionadas. Porque o encantamento explode e não tem para onde ir. No entanto, deixou que qualquer sentido absoluto fosse decomposto no desgosto da sua falta de sorte. No agora, aceita acompanhar a sua jornada de longe, como quem contempla uma estrela com um telescópio.

É mais sensato e até justo. Sem perigos, sem desejos que deixam a visão turva, sem toque, sem beijo, sem terras iguais para pisar. Não. Ela é outro tipo de canção. Uma daquelas solitárias para se escutar em uma noite de abandono. Porque ainda é tempo de segurar a melodia, fechar os olhos e deixar que ela reverbere completamente em sua aura atordoada.

Enquanto os portões não se fecham, suspira e contempla sua escrita ou sua imagem vinda de tão longe. Tudo isto sabendo que chegará o momento do fim desta narrativa. Tudo isto com a certeza de que não verá a revoada da borboleta, porém já sem a melancolia de outrora, porque ela há de escapar e neste derradeiro dia, irá se sentir satisfeita por completo apenas por isso. 

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