A noite corria num misto de devaneio e sobressalto. Seus
olhos encontraram um radiante sorriso juvenil. Após os nefastos passos correu
em direção do vento e banhou-se em mares esverdeados. A luz, que outrora
reluziu candente, perdia o brilho reconquistado. Sua luminosidade de fada
alimentava-se das verdades coroadas e fincadas em sua alma.
Depois chegou o amanhecer. E, com ele, o caos. As mentiras foram
reveladas. Toda a festa e júbilo se perderam em poucos instantes. Agora o
silêncio segurava sua pele e mostrava seu coração sádico, vil e impuro. Agora o silêncio se fazia som. Uma melodia
metálica e turbulenta. Um ruído protegido pela couraça de uma futilidade
inexistente.
As perguntas sobre qual seria a verdadeira face do silêncio
rondavam e cresciam. Seria mesmo fantasia ou tudo que outrora viveu era a
realidade? Os sagrados segredos profetizados, as fiéis certezas, as juras
cálidas e memoráveis.
Porém, ainda existia dentro da fada, a menina que sonhava na
varada. Lá, sabia tudo sobre amores verdadeiros, passageiros e aqueles de
vidro. Sim, há quem cultive toques desnecessários, beijos vazios e madrugadas
cinzentas. Esses permanecem na estante, empoeirados e são sempre premeditados.
Na estreita varanda viu dor, solidão, alegrias sem fim,
concupiscência, desejos intensos, reais intensões ditas de uma vez só. O
passado parece doce e o presente fel. As escolhas precisam ser feitas. E as
dúvidas são sempre recorrentes. A deusa, agora em seu reino celestial, já não
lhe leva ao Olimpo. E o silêncio se afasta e se apaga. Talvez, na verdade, seja
o momento do recomeço. Ou, talvez, seja a hora de esperar.
As respostas não chegam e tudo parece confuso e turvo. Ainda
existem aqueles que dizem que foi tudo verdade, mas cada vez parece mais um
sonho. E a distância desfaz laços,
recobra lembranças, muda a estrada. No agora, o sol se põe. No agora, tudo é
poeira cósmica. No agora todos dizem, em uníssono:
agora vá.
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