Em época de Ano Novo os corações ficam frágeis, emudecidos, para
que possam, então, explodir de júbilo e sensações. O rosto enrubesce com o
nascer do sol, a alma vibra ao sentir a ventania percorrer o corpo, os olhos
se calam e já está na hora da festa.
Os ciclos se renovam. Ou não. Quando o
cálice transborda veneno, o resto se apaga e o vento cumpre novamente a sua
função. A de purificar. Transformar. Renovar. O outrora adocicado, aparentemente mais
suave que o presente, confirma a certeza de que o horizonte se aproxima.
As palavras soltas correm na madrugada
preenchida de som e fumaça. O propósito dos dias se alastra e os mares revoltos
já não consomem os passos tortuosos de sua jornada. A escrita se alastra. O
passado jorra na pele. As flores caem nos pés cansados. Uma luz surge coberta
de brumas. O acaso condena as histórias recorrentes e as ações prudentes fincam
longa morada na noite cinzenta.
Sim. Agora é chegada a hora da festa. Dos
sorrisos e das horas. E todo aquele tempo que vem antes. E todos os minutos
eternos que anunciam o que vem depois. Bruma, névoa, cansaço. A teimosa
sinfonia insiste em ecoar nos ouvidos e já está mais do que na hora de fugir.
Correr e se deixar deslizar pelos abismos de fel e doçura, cobertos de
impunidade e celebração.
Sorri tola para o vento que agora invade a
aura. Deixa desvanecer as certezas. Regressa para o seu lugar. Aquele que
sempre lhe pertenceu. Dança pelo ar. Flutua. Até que as sombras se recuperem.
Até o amanhã. Até o próximo suspiro. Até.
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