terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Quando a fada resgatou o outrora



Ela veio de uma coleção de pó de estrelas encantado, daqueles efervescentes, que brilham infinitamente. A sua intensidade leviana é avassaladora. Nela, ela carrega todas que passam por seu caminho e chacoalha seus mundos, em busca de um prazer momentâneo, porém que marca para a eternidade. Nunca pela metade, ela sorve cada sabor de conquista e ressignifica as derrotas. Sim, ela é ventania que se alastra e derrama os cálices resplandecentes, com um sorriso.

Depois, guarda consigo cada recordação das migalhas que restaram, após o vendaval. Entre flâmulas e oceanos, roga ao destino que seu coração se aquiete. Prestes a cometer mais um de seus atos impensados, recalcula a rota, procurando não repetir padrões de um outrora incendiado. Aquela que iluminou seus dias cinzas e deitou em cima da cama de rosas, já não consegue mais subir no balanço e performar ingenuidade. "As estações agora mudaram". 

Todavia, os anos se passaram e as dores permaneceram as mesmas, assim como os padrões. Se não pode colher as flores e observar os anjos escorrendo pelas paredes, por que repetir os passos iguais, em direção da mesma sina? Quantas sonatas terão de tocar até que possa ver nitidamente as mazelas de suas decisões? Qual é a verdade de seus sentimentos e por qual razão insiste em falar do mesmo assunto? Não existe mais jardim, tampouco varanda. Não há mais fumaça mentolada que caiba em seu peito.

No entanto, talvez, no agora de exaustão, o que deseje seja encontrar caminhos, voltando lá na vida pregressa, quando os pássaros mortos cantavam e anunciavam um novo amanhecer. Pois, a solidão insuportável lhe trazia rumos desmedidos, conflituosos, desgastantes, porém decisões eram feitas. Seguia, pela emoção, pela mera sensação de entretenimento, pela premissa intensa, pela determinação tola. Neste rumo, pagava altos custos por sua obstinação.

E nunca cessou. A cada música que aquecia a aura, partia bravamente em busca de um horizonte fiel. Sem louvor, continuava a procurar. Mas, em um dado momento, construiu seu próprio muro, abandou os donos do escárnio e deitou em sua cela particular. Sem rodas gigantes, sem amores pintados nos muros, sem acreditar numa possível reviravolta. 

De repente, chegou. Chegaram. Vieram para, logo em seguida, partirem. Velozes, cheias de sentenças prontas e turbulências. Com elas, todas elas, era como se estivesse sempre em um avião, rezando para chegar em terra firme. Ainda assim, fechou os olhos para a verdade e se deixou levar outra vez. "Mais uma. Somente esta canção e paro de vez", pensou. E é por isso que embarca, novamente. Porque  existe somente algo inabalável em sua jornada: a fidelidade ao ser quem é. De verdade. Para todo sempre. E quem sabe o que este vendaval irá afetar desta vez? Sigamos.

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