quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Ohne Liebe



É tudo muito confuso. É como se fosse um amontoado de sentimentos soltos que não consegue colar jamais. Olhar para o passado e para o presente parece ser igual. Sempre repetindo a mesma badalada dos sinos insistentes. Não tem aptidão para fugir da eterna martelada da verdade. Seu coração, ainda que estilhaçado, quer vibrar juntamente com as melodias que invadem sua alma. Aí, é perdição apenas. Antes que possa desligar a canção anterior, a próxima chega, estrondosa. 

Por isso, o pânico e a fuga. Talvez, fosse mais fácil correr de verdade. Contudo, fica. Permanece e deita nos escárnios que cobrem seus pés. Os sorrisos não são reais. É tudo ilusão. Por que será que a ninfa ressurgiu das cinzas? Ela se pergunta, enquanto mira o espelho. Nele, o reflexo das incertezas parece maior e mais forte. Depois, olha para o horizonte e não consegue encontrar o sorriso que tanto se viciou. Por que será que não tem a habilidade de apagar as músicas?




As notas continuam a se repetir. Em um sacrilégio sangrento, pula em direção do abismo e se sente sufocada. Nunca é como deseja. O mar banha os ombros. O sol brilha reluzente e sente que é incapaz de se mover. Está paralisada diante das opções. E todas elas são nulas. Não existem. São pura fantasia. Derrama e engole ilusão em um cálice fumegante, que arde, para depois corroer a pele. Não é mais menina, no entanto. Provou de vários venenos, derramou todas as lágrimas possíveis. Agora, devora os segundos pálidos. Alimenta-se das cinzas. Consome os restos do que foi no outrora.

Ela é isto: uma sinfonia incendiada na madrugada. Não é comedida. Não controla os pensamentos. Não pensa para agir. Não adianta enfeitar sua rubra tez se, ao final, o resultado é o mesmo. Precisa, necessita, de uma dose forte de paixão. Qualquer sombra de dúvida afasta. Não quer, não pode aceitar nada pela metade. Já foi o dia no qual foi uma tola garota que esperava. Odeia essa sensação. Não quer aguardar decisões, olhares e toques. Quer tempestade, tremores, relampejos. 




A indiferença ela guarda para o amanhã. Para empregar naqueles que traem a sua confiança. Pra os sorrisos falsos, para as promessas incipientes. Não pode, não deseja, não almeja, nem por um segundo, reviver torturas do outrora. Veja bem, seus passos foram marcados por uma paixão antiga que destruiu seu peito, que consumiu toda sua juventude e alegria. Ali, jurou, em silêncio, que o regresso para aquele estado seria estupidez. E certa estava. Quando o não não é dito depois do sim, quando os relógios soam, quando o verde esmeralda se apaga, quando a ninfa crava seu punhal em suas costas, quando a repetição é apenas cotidiano, ela desfalece. Em sua mente, todo dia é decepção. Cada aurora faz jorrar a recordação das dores eternas do que já foi. 


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