terça-feira, 15 de novembro de 2016

O soar dos sinos

É véspera de júbilo. É o vento que volta a seguir seu curso. É o sabor mais cobiçado e alcançado. É sorrir para o amanhecer na certeza dos sonhos cobertos de flores. Os sinos tocaram. Não foi? Soaram forte. Como nunca antes. E o coração palpitou intensamente. Outra vez, mais uma. Somente mais uma eterna vez, que se repte junto com a certeza que arde incessantemente. Junto com os mares que cobrem seu rosto. Junto ao vestido, ao giz e a mais doce ilusão.



Regras criadas se perderam. Quebraram-se. Se queimaram. Todas. Exultante. Mais uma vez consegue ergue-se para o futuro. Mais uma vez as dúvidas se apagam, os céus se acedem, o destino se recria. Mais uma vez é dor embalada em alegria. Mais uma vez os olhos se encontram. A alma se contamina de festa. É a fumaça que cobre a escrita. O gosto inconfundível. O tempo que cessa e a música que faz sentido novamente.

Renasce e o ciclo se refaz. Renasce e rasga as lamúrias. Renasce e mergulha nas certezas. Reascende a chama. Entrega-se ao novo sentido da madrugada. Aceita. Permanece. Reconhece seu vício. Admite de uma vez por todas que é o veneno que gosta de beber. E de uma vez só. Sem derramar uma única gota. Minuto após minuto suspira, lembra, gargalha. Volta a ser candente. Volta a fazer promessas. 

E deixa que os sinos toquem, ainda que de longe. E deixa que os pedaços estilhaçados de um coração de cristal se refaçam. Talvez nunca acorde. Talvez permaneça nesse estado para sempre. Talvez. E sempre há o próximo passo. E sempre o próximo suspiro. Ou o último. Aquele banhado pelo seu nome, preenchido pela eternidade. Aquele que despeja a derradeira sentença. Aquele que tem o único poder de finalizar o que o tempo e o destino não foram capazes de fazer.


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