segunda-feira, 25 de março de 2024

Agora vão...







Se os erros do passado cristalizassem os do presente, seria livre, enfim, para seguir por rumos mais floridos. Se as canções não ecoassem em seus ouvidos, poderia garantir a felicidade para aqueles que a cercam. Mas, no portal do Olimpo, avistou o seu olhar desesperançado. Quebrou seu coração remitente, em véspera de tarde cinzenta e de dor. Caso fosse possível enxergar seu coração, veria todo o amor que pulsa nela a cada respirar. Ainda assim, é com a musa do vento que deixa escapar o pior de si, sem seguir para a alvorada.

Ela, que domina os pensamentos e se faz presente em cada despertar, enlameia-se de tristeza quando encontra a imperatriz vestida de fada. Embriagada novamente, de álcool e de mágoas, ceifou de vez qualquer chance de aproximação. Em um profundo rompante de possessividade, queria que fosse sua e já não mais lhe cabia ser. Como deixar que a música cesse, quando o céu ainda permanece estrelado em sua aura? Como parar de repetir a mesma danação de outrora, em um gole só, enquanto não é dia de escárnio?

Somente sabe que a deusa do vento alimenta os seus piores pesadelos, juntamente com o alimento que entrega aos que pouco se importam com o seu caminhar. Quando irá ver que há um horizonte sem chagas, para que possam finalmente trilhar o rumo esperado e programado? Ou todas as suas ações tornam impraticável um retorno mínimo de sua respiração? Por que precisa ser tormento danoso, em uma segunda-feira fria, feia e cinzenta?

Pois queria que fosse eterno o momento que estava ao seu lado, no lugar que mais amam, dividindo os comentários que adoram tanto fazer. Só queria ser outra para que pudesse resetar seu sentimento, que ficou abandonado no passado tenebroso. Todavia, não há retorno e não há salvação. Precisa, mais uma vez, cortar o laço do amor bruto, que lhe rasga a pele e gargalha de sua árdua batalha. Precisa esquecer de vez ela e qualquer outra cantiga que tocou no ontem e já não vai mais ser tocada. É chegada a hora da despedida certeira e única.

Todas irão embora da sua mente e, com isso, a paz reinará. Não existirá deusa, girassol ou borboleta. Não existirá bebedeira, escândalo, raiva ou palavras vociferadas pelo inconsciente. Não poderão mais julgar a sua face zombateira, preenchida de ressentimento pelo abandono. Porque ela sempre avisa e nenhuma delas escuta. Depois, todas partem e, para ela, resta um coração estilhaçado, deixando a certeza de que tudo que pensa de si é verdadeiro. Chega de trajar as roupas de outra menina, que já se foi, com a varanda e os cigarros.

O processo é longo, mas o adeus é o passo inicial. No hoje, a ama, com certeza. No manhã, somente a ventania sabe e dirá com o tempo das deusas celestes, que empregam a calmaria, quando ela mais precisa. Então, que esqueça a noite de sábado e foque em seus versos não poéticos e confessionais. "Há vida para ser vivida e houve a vida que não se viveu". O Tempo, ele sim irá afastar as chagas dessa mágoa mal declamada por uma voz embriagada. Gritou pela partida, clamou para as entidades que lhe acompanham que seus antigos amores fossem embora de uma vez, em um trago só, e elas foram. 

Agora vão. 

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