domingo, 1 de maio de 2022

Trégua


Não deseja que mergulhe em ressentimento ou se distancie a ponto de não mais ler seus escritos. Não quer cortar o contato completamente. O que deseja - e acabou dizendo desaforadamente em sua missiva anterior - é estar perto dela de maneira ressignificada. Para alcançar tal intento, precisa ir na direção de outro porto que não o de se sua atual amada.

Enquanto seu rosto desvanece da memória, suspira e tem a certeza de que tudo se ajeitará em algum momento. Os seus pés pisarão o mesmo solo, lá no quase derradeiro final de temporada. As sensações adormecidas irão ser despertadas e ela fugirá mais uma vez. Mas isso não mais tem importância, ainda estão por vir muitas vidas para que tente de novo.

A diferença do outrora para o agora é que antes estava desavisada. Hoje, pode fortalecer o coração diante da lonjura e se enganar dizendo que estará tranquila quando respirarem o mesmo ar. Todavia, é preciso alertar a borboleta de que precisará tirá-la do lugar de paixão, finalmente. Não por mal ou mágoa, não. É porque já passou do tempo desta emoção ter cabimento.

Assim, irá se permitir - e desta vez de verdade - escutar cantigas outras, quando estiver distante de sua torre colorida. Caso sobreviva ao veículo apavorante, desfrutará cada segundo de vida, de carinho, de aventura e júbilo que lhe ofertarem. No retorno, espera que já esteja forte o suficientemente para encarar a borboleta frente a frente, olho no olho e apenas achar graça do seu pânico de aprisionada. 

Ou, melhor ainda, quem sabe, se ela permitir, gostaria de ser aquela que acolhe com os olhares e diz que vai ficar tudo bem, com um abraço singelo, ainda que ela não entenda motivo. Somente o futuro dirá, Schmetterling! Hoje, pede que fique, que encontre uma saída de permanecer pelas redondezas, que cunhe uma amizade frugal e alegre como seu sorriso. 

Certamente, a fada não irá mais te pressionar ou pedir absolutamente nada que não seja escutar sua voz, sentir sua energia e rir do seu lado, falando de qualquer assunto tolo. Porque ela é como uma borboleta e não há nada mais belo do que acompanhar a sua revoada dançante. 

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