sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Eludir

Ela é fogo que se alastra nas madrugadas silenciosas e gélidas. Ela é flâmula que ascende em cada amanhecer e entardecer. Em todos os instantes, seu sorriso gruda na memória, seus olhares permanecem fixos no pensamento e nada é mais importante a não ser a sua voz imponente. 

É difícil saber como encerrar uma história inexistente. Mais ainda, é saber que a noite chega e seu corpo reage ao encontro, sem que possa controlar as suas sensações. Por isso, ainda que sonhando em fugir para o outro lado do mundo, para que não tenha que encarar a verdade, reflete sobre este desejo que é tão dominante.

Quando foi que tudo começou mesmo? Talvez, tenha sido no instante exato no qual a viu. Consegue recordar com detalhes os sentimentos emergentes e desproporcionais ao avistar a sua figura resplandecente. Inclusive, recorda, de forma vívida, a aparição de um pensamento certeiro em sua mente, naquele momento específico.

Sim, o de fugir, o de não prestar atenção. Assim, seguiu, com o foco quase inabalável, procurando construir a trajetória sonhada. No entanto, ao mesmo tempo, em cada minuto que passava, seu coração palpitava sem controle. Algumas vezes, falhava, até, em guardar para si como aquela figura lhe arrebatava.

Eram elementos apaixonantes tão incontáveis que foi quase desistindo de lutar contra o impossível. Mas, seguiu firme na batalha de tentar disfarçar e esquecer esta insana emoção, que não contava com justificativa alguma a não ser uma imagem encantadora. Talvez, isto seja o suficiente para alguns e, para outros, seja motivo de espanto. 

Já não faz ideia do que é apropriado ou não. Também cansou de criar guerras inteiras consigo para evitar sentir o incontrolável. Ao mesmo tempo, tem certeza de que este só pode ser mais um de seus devaneios insensatos e que falta pouco para ele sumir de vez. Falta um tantinho para terminar a caminhada e seguir em busca de outros horizontes. 

Todavia, seguirá melancólica, é bem verdade. Em suas descobertas mais recentes, sentiu um punhal cravado no peito e não faz ideia de como retirá-lo. Como esquecer? Como compreender toda esta equação borrada? Nem em seus sonhos mais infantis e tolos, imaginou que pudesse ser correspondida.

Então, por que driblar ou tripudiar? Por que revelar este segredo? Por que não guardar trancafiado na torre mais alta de seu castelo de ouro, em seu reino celestial, com seu rei e suas alegrias? O que resta agora a não ser dúvidas e questionamentos? O que sobrará ainda deste estilhaçado coração, no final das contas? 

É assim que percebe que as perguntas não são para a outra e sim para si mesma. Ela nunca fez parte desta história, desta fantasia estúpida. Não concretamente. E se existe neste céu infernal alguma resposta, minimamente, pronta, que encontre o mais rápido possível. Há de haver paz nesta revoada de borboletas invisíveis. Há de haver. E repete baixinho esta sentença, até que acredite de uma vez.


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