quarta-feira, 13 de maio de 2020

Quando a fada descobriu o que era o amor...

Por onde começar quando a madrugada morta ganha novas cores? Como contar os passos quando a memória é seleta e o amanhecer purificado? Já fazia tempo que a aura não emanava luz de qualquer espécie. Já não sabia mais como existir neste mundo em que tudo é desespero e ilusão. Depois, manchava-se com o sangue que jorrava do peito, enquanto o escárnio enlameava a pele. Prometeu, meio sem jeito, que nunca mais adentraria na certeza de pertencer a uma canção.

Foi de abandono que se alimentou por infinitos séculos que ainda chegariam. Foi em caos e em chamas que se afogou. Profundamente. Encharcou-se de lamúrias para que o próximo passo estivesse claro. Jamais seria amada por quem é. Jamais seria doce descer da torre e abrir todos os cadeados. Prendeu-se para que a sinfonia nunca fosse trocada. Enclausurou os pássaros e não permitiu que entoassem outra canção que não fosse a sua. Mentiu até que não pudesse mais. Para si mesma, claro. Era de vendaval que se embebedava.

Até que mudou. Tudo estava transformado e se sentia pronta para lutar contra a própria sorte de somente desalento encontrar. Abriu-se e berrou para os céus que aceitaria a alvorada cintilante e sincera. Mas, não era. Era engano. Era disfarce. Era tudo que tanto correu para não se ferir como naquele outrora da varada. Por isso, retirou-se novamente para o último andar da solidão. Contudo, não era isso que o destino reservava. Não havia entendido, ainda, qual o caminho do horizonte verdadeiro. Até que...os olhos se encontraram, a noite foi fiel, o beijo foi selado.

Dali em diante, era como se já soubesse e quisesse. Seria uma ilusão novamente? Seria tormenta em demasia? Tentava escapar do que não reconhecia. Porém, em cada despertar o sentimento aumentava, as perguntas cessavam e somente queria dizer sim. Sim, sim, sim. Para tudo. Para cada sentença mergulhada em cores. Para cada sorriso único e verdadeiro. Para cada despedida irremediável. Todas as vezes que seus olhares se encontravam, o mundo era festa, o estilhaçado coração se recuperava, era um rio infinito de novas sensações. Por isso, descobriu: sempre pertenceu! Sempre esteve esperando, sempre procurou o que tinha certeza que existia, mas não aparecia. E continuará se sentindo assim em todas as estações, em todos os anos que estão por vir, em todas as vidas que ainda chegarão. Porque é sua e para toda eternidade será.

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