Foi. Ainda na primavera. A cautela escapou das suas mãos. Seu
coração descompassado achou que seria certo seguir em frente. Seu coração tolo
e embriagado guiou seus passos para o abismo.
O que fez mesmo com as chaves
guardadas? Por acaso não compreendeu que a solidão ainda é o melhor
remédio para se proteger das impulsividades? Ainda não entendeu que olhos se
abrem no amanhecer e a canção já é outra?
Não existe mais varanda alguma que
possa guardar seus segredos. Não existem mais jardins que deixem seguros seus
devaneios.
Estava escondida. Em sua torre de cristal. Nas doces montanhas. No
silêncio. Nas fantasias. Nas ilusões.
O perigo mesmo, este que se apresenta em
cálices coloridos, está na entrega. Ou nas vozes. Ou nos dias. Ou na
espontaneidade. Ou em imaginar que há controle total das ações.
As palavras são tolas. São em vão. São
tudo. É uma escrita para o futuro. Ou não. São muitas perguntas. Muitas
questões. Olhares. Pedidos. Promessas. Tudo é tão turvo que já nem consegue
mais respirar. Ou ouvir os pássaros. Eles pararam, não é mesmo? Novamente.
Talvez eles saibam a hora de parar. Até
eles se entregaram para um mundo sem som, sem cor. Enquanto aquela que ouvia
suas músicas grita para o mundo vil suas fragilidades. Seus descontroles. Suas
necessidades. E já é não é mais menina. Faz tempo. Aliás, faz bastante tempo.
Agora é madrugada cinzenta. É sofreguidão sem propósito.
É esse mar que se mistura na tempestade de um sorriso perdido.
Afinal, quantos clamores precisará escutar
para parar de vez? De uma vez só. Completamente. Ou será que os ciclos
continuarão se repetindo? Ou será que as dúvidas somente calam quando se dá o
último suspiro? Ou será que é melhor pular? Pular de vez. Sem muito pensar.
Sem questionar coisa alguma. De alguma forma seria o ideal. Talvez. Assim seria
mais fácil. Seria menos doloroso. Egoísta, porém, menos doloroso.
Essa intensidade juvenil compromete os rumos
da jornada. As narrações se repetem. Entre passado, presente e futuro. Entre
tempo e destino. Entre decisões concretas e insanas. Entre dizer sim ou sair
correndo em direção da noite mais fria de todas. Entre aceitar e desistir.
Entre ser inteira e ser pela metade.
Completa ou não, o melhor mesmo é correr
em disparada ao horizonte coberto de resposta singelas. Ou parar tudo de uma
vez. Se calar. Ser apenas silêncio, música e solidão. Abandono total da dor.
Sem pestanejar. Sem piscar. Sem suspiros. Sem emoções. Sem medos. Sem dúvidas.
Sem descobertas. Sem nada. Apenas consigo. E a noite. E a fumaça. E as músicas.
Talvez. E só está começando.
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