domingo, 15 de novembro de 2015

Si Jamais tu m'écoutes

Desespero. Desespero eterno. Dessa madrugada sem fim. Dessa falta de ar. Dessa fumaça que queima a garganta. Dessas escolhas que faz quando o céu se apaga e as memórias se esvaem. Talvez precisasse de alimento para sua escrita, para sua alma. Seus dramas são apenas seus. Não pertencem a ninguém. São tão seus que somente machucam a sua pele. 

Se disse sim foi porque toda sua alma respondia. Resplandecente. Cheia de alegria e certezas. Cheia de sinfonias coloridas e alegres. Cheia de sim. Contudo, sua estrada é tortuosa demais. Seus olhos ardem. Seu corpo treme. É angústia. É angústia sem fim. É. Sem motivos específicos. Sem ao certo saber as razões concretas para tal sentimento. As emoções afloram e as vibrações internas corroem a aura. As palavras se reduzem.

Talvez ainda seja menina. Essa negação, essa vontade voraz de crescer, impede que caminhe livremente. E esse drama eterno que acorrenta suas ações já não lhe é necessário. Quer fugir de prantos, de dores, desamores, intensidades, cores. Quer respirar fundo e seguir. Deseja intensamente a liberdade. Clama insanamente pelo sossego. Por decisões simples. Por caminhos repletos de quietude. 

As lembranças consomem seus pensamentos. Enquanto a água salgada escorre na pele, tenta encontrar algo para se apoiar. Tenta achar alguma lucidez. Busca incessantemente por uma resposta concreta. Busca e delira. Busca e suspira. Busca e recorda. Procura. Obstinadamente, determinada em descobri qualquer solução eficaz para essa amarga sensação de que seu futuro escapou mais uma vez de suas mãos, de que suas decisões já não são mais suas, mas do destino. Desse destino infeliz e perverso, que jamais lhe presenteia com a tão pedida paz.

Não. Não tem respostas. Para ninguém. Muito menos para si. Uma onda de amargura toma conta de seus pensamentos. Uma enorme e profunda onda, que arrasta todas as suas forças para um lugar no qual não existe possibilidade de alegria. Que não há como regressar. Está presa, não está? Sufocada. Atormentada. Infeliz. Ainda que considere suas emoções ingratas. Ainda que tenha certeza de que o vento retornou. Ainda que todos os seus pedidos tenham sido escutados. Ainda que agora deveria ser o momento exato de caminhar tranquilamente. Ainda assim.

A única certeza que permanece é a da vista turva. Embaçada pelo pranto do final de noite. Pela neblina do início de um tormento perigoso. É temor. É preocupação. É tudo. Menos abrir os olhos e enxergar que, na verdade, deveria ser tudo ao contrário. Na verdade, não tem direito de reclamar. Na verdade, deveria grudar na face esse sorriso que aprendeu a usar na infância. Na verdade, deveria só dizer sim. Esperar amanhecer. Parar de se arriscar. Parar de gritar para o mundo todas as suas verdades. Parar. Parar de uma vez por todas. Somente isso. Parar, até silenciar de vez a sua própria existência.


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