Seguiu. Em direção do vento. Cambaleava. O ar impuro
preenchia os pulmões. Silêncio. Trancada na torre mais alta pulou em direção
do novo horizonte. Fumaça. Devaneios. Surpresas. Cálices que transbordavam
impunimente. Dúvidas secretas, chamas insensíveis de segredos aprisionados. Não
há lógica ou razão. As madrugadas escorrem e seus versos tornam-se profanos.
Sinceros. Reais.
Um grito de dor lancinante e mais um
punhal finca-se nas costas. Neblina. Paixão. Suspiros e gemidos do anoitecer
transformam-se em júbilo despudorado. A escuridão se alastra, o cinza tenta
alcançar seus passos. Uma miragem, uma paisagem, a imagem que insiste em trazer
sussurros inescrupulosos, maldosos, invisíveis, cobertos de escárnios.
Arde na concupiscência, deixa que o
desejo apague as incertezas, redescobre os sentidos verdadeiros. Deixa a doçura
penetrar a alma e o cristalino veneno escorre dos olhos. O ódio motiva. O
amanhecer ainda é fiel. As mágoas se desfazem e soterram-se no oceano revolto
de sua aura. Entrega-se de uma vez só. Sedenta pelo novo caminho que surge em
sua frente, destrói muros de súplicas, enlaça a sorte, abandona a morte passageira
de sonhos translúcidos.
Queima a escrita, derruba a varanda
na qual a mente se prendia, foge das inverdades, denuncia as falsidades, rasga
as sentenças pré-estabelecidas, corrói o resquício de pranto, permanece na
sobriedade dos dias, nas metáforas concretas, nas palavras indiscretas, em tudo
que pode ser e jamais foi no outrora distante.
Sela pacto com a justiça, aceita as
promessas do destino, incendeia o tempo, renega a melancolia. Candente, rubra e
preenchida de força jamais sentida. Fecham-se as cicatrizes, deleta os
infelizes corvos que tentam derrubar o impossível. Espera e segue rumo ao
pedestal certeiro das horas desvanecidas. Perde-se para nunca mais, naquela
bruma sangrenta e revolta, entre as flamas e os lírios, entre o início e o fim,
entre o agora e o eterno. Na intensidade das flores, nos acertos sem pudores,
em tudo que for festa em demasia.