Palavras
engasgadas na garganta, amores impossíveis, nenhuma lágrima, uma possível e
cruel verdade. Há uma enorme vontade de correr para o vento, braços abertos e a alma
cristalinamente purificada. Depois repensa as ações, as escolhas, as
sentenças silenciadas por números escritos em algum tolo papel. Rasgá-lo seria
melhor e, só assim, viria o recomeço.
Afinal
foi sempre assim. Entre um recomeço e outro o ciclo se repete numa louca
ciranda irracional. O desejo de pertencer e ser, de sentir
aquela energia única que domina a aura, a pele, a mente. Mas, será que
isso a pertence? Quando alguém pode afirmar que adquiriu algo de nascença? Ou aqueles olhos são tão pérfidos, tolos, incompetentes, que a
visão turva distorceu todas as intenções e palavras que saiam de sua
boca?
A determinação
em aguentar os segundos que escorriam nas horas infinitas, o sangue que pulsava
e a respiração que prendia para não gritar para o mundo que além de suas
próprias falhas existiam as de outrem. E sacerdote algum conseguirá salvar
ou julgar. E nenhuma guerreira de espada púrpura poderá lançar seus
encantos novamente. E nada será igual, muito menos diferente.
A
liberdade. Os desejos. O futuro. A ansiedade. A incapacidade de
criar. O sufocamento constante. Manhãs de solidão. O medo. Sim, o
medo de não ter nascido para dar os próximos passos. Ou não. Ou tudo
isso é apenas veneno dos derrotados. Ou a madrugada é mais fiel. Ou a
espera pela paixão perdida é mais preocupante. Ou talvez quisesse esquecer
tudo de uma vez. Apagar os rascunhos, as emoções, os
refletores, os olhares vazios no meio da multidão.
Existe muito
para se falar. Pouco tempo, pouco espaço, pouca vontade. Um pouco de tudo
e nada. Porém, antes não ter nascido para alguma coisa, do que não ter
nascido para nada, pois estes sim estão condenados a solidão
eterna dos dias que virão.
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