quarta-feira, 7 de maio de 2014

Uma

Em época de Ano Novo os corações ficam frágeis, emudecidos, para que possam, então, explodir de júbilo e sensações. O rosto enrubesce com o nascer do sol, a alma vibra ao sentir a ventania percorrer o corpo, os olhos se calam e já está na hora da festa.

Os ciclos se renovam. Ou não. Quando o cálice transborda veneno, o resto se apaga e o vento cumpre novamente a sua função. A de purificar. Transformar. Renovar. O outrora adocicado, aparentemente mais suave que o presente, confirma a certeza de que o horizonte se aproxima. 

As palavras soltas correm na madrugada preenchida de som e fumaça. O propósito dos dias se alastra e os mares revoltos já não consomem os passos tortuosos de sua jornada. A escrita se alastra. O passado jorra na pele. As flores caem nos pés cansados. Uma luz surge coberta de brumas. O acaso condena as histórias recorrentes e as ações prudentes fincam longa morada na noite cinzenta.

Sim. Agora é chegada a hora da festa. Dos sorrisos e das horas. E todo aquele tempo que vem antes. E todos os minutos eternos que anunciam o que vem depois. Bruma, névoa, cansaço. A teimosa sinfonia insiste em ecoar nos ouvidos e já está mais do que na hora de fugir. Correr e se deixar deslizar pelos abismos de fel e doçura, cobertos de impunidade e celebração.

Sorri tola para o vento que agora invade a aura. Deixa desvanecer as certezas. Regressa para o seu lugar. Aquele que sempre lhe pertenceu. Dança pelo ar. Flutua. Até que as sombras se recuperem. Até o amanhã. Até o próximo suspiro. Até.


Nenhum comentário:

Postar um comentário