quinta-feira, 11 de abril de 2013

Antes de alcançar


 Palavras engasgadas na garganta, amores impossíveis, nenhuma lágrima, uma possível e cruel verdade. Há uma enorme vontade de correr para o vento, braços abertos e a alma cristalinamente purificada. Depois repensa as ações, as escolhas, as sentenças silenciadas por números escritos em algum tolo papel. Rasgá-lo seria melhor e, só assim, viria o recomeço.

 Afinal foi sempre assim. Entre um recomeço e outro o ciclo se repete numa louca ciranda irracional. O desejo de pertencer e ser, de sentir aquela energia única que domina a aura, a pele, a mente. Mas, será que isso a pertence? Quando alguém pode afirmar que adquiriu algo de nascença? Ou aqueles olhos são tão pérfidos, tolos, incompetentes, que a visão turva distorceu todas as intenções e palavras que saiam de sua boca?

 A determinação em aguentar os segundos que escorriam nas horas infinitas, o sangue que pulsava e a respiração que prendia para não gritar para o mundo que além de suas próprias falhas existiam as de outrem. E sacerdote algum conseguirá salvar ou julgar. E nenhuma guerreira de espada púrpura poderá lançar seus encantos novamente. E nada será igual, muito menos diferente. 

 A liberdade. Os desejos. O futuro. A ansiedade. A incapacidade de criar. O sufocamento constante. Manhãs de solidão. O medo.  Sim, o medo de não ter nascido para dar os próximos passos. Ou não. Ou tudo isso é apenas veneno dos derrotados. Ou a madrugada é mais fiel. Ou a espera pela paixão perdida é mais preocupante. Ou talvez quisesse esquecer tudo de uma vez.  Apagar os rascunhos, as emoções, os refletores, os olhares vazios no meio da multidão.

Existe muito para se falar. Pouco tempo, pouco espaço, pouca vontade. Um pouco de tudo e nada. Porém, antes não ter nascido para alguma coisa, do que não ter nascido para nada, pois estes sim estão condenados a solidão eterna dos dias que virão.

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