sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entorpecida


   Outra vez. Deixo o egoísmo me dominar. Deixo a saudade me dilacerar. A angústia pulsa. Queima. O ar não chega. Culpa. Tudo é tão vazio quando se está só. Nada é suficiente. Sei que o mundo suplica a salvação. Que não chega. Enquanto isso, vivo.
    Quero viver. Intensamente. Quero que os pássaros cantem. Que a lua venha. Tudo gira. Perco-me em devaneios. A neblina é a mais forte. Soterrada de emoções, calo-me. Quero gritar. Implorar pela presença. Quero consolar-me em algo que não aparece. Quero sentir. Não consigo. Saudade. Tudo em vão. Nada faz mais sentindo a não ser os sentimentos.
     Na névoa da noite, nada é mais claro. Todos partiram. Permaneço. Sozinha. Buscando algo que me alegre. Música que não cessa. Quero. Tanto. Tudo poderia ser diferente. Mais fácil. Mas, reclamar é impossível. Preciso que tudo silencie. Que nada seja breve.
    Inevitavelmente, preciso recorrer a que não quero. Suspiros. Afagos. Tudo não é tão necessário quanto aquela voz. Que, agora, sofre. Os dias passam. A madrugada incendeia o cálice, que transborda. Aflita, escrevo. Procuro.
    Inebriada de lembranças, marcada de sensações, contento-me em relembrar. O abraço mais regozijante de todos não é esquecido. Necessito de algo que me faça sorrir. Eu não sorrio. Não é fácil para mim. O que me consola são as palavras. O amor nunca se esvai. Esquecer. Não é o que acontecerá.
     Incertezas aparecem. Chama candente não se dilui. O tempo. O odeio. Amargo. Solitário. Irrecusável dúvida do que o futuro trará. Agora, no silêncio das estrelas, soluço em prantos que nunca virão. A face rubra, pálida fica. E a salvação perde-se em algum lugar.

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