domingo, 14 de fevereiro de 2021

Quando a lembrança é melhor do que a festa

  O sonho banha a memória em silêncio. As cores começam a fazer sentido outra vez. Seu corpo, manchado pela derrota de outrora, insiste em cavalgar em direção do infinito emudecido. Se conseguisse proferir palavra alguma, procuraria recordar os sentimentos do passado. Em um estado eterno de paralisia, se vê perdida em encantamentos falsos. Quando desperta, sussurra os nomes apagados pelo vento.

Bebe desilusão em um cálice cinzento desvanecido. Cobra os afetos perdidos para que volte a sentir o toque gélido da madrugada. A solidão costumeira finca moradia em sua alma. Os restos em putrefação caem em sua face e alimentam as discórdias internas. É de nostalgia que é feita, pois o presente é sempre abominável. É quando revive os erros em sua mente, que a sua rotina é completa.




Em qual pulo deixou de ser quem era? Em qual noite se entregou de vez a desistência? Quando os sábios entoam canções, busca apurar os olhos e compreender onde está a saída tão almejada. Quando há festa em demasia, afasta seus passos para que enxergue melhor a danação de seus dias. Não há retorno ou salvação. Foi na varanda que prometeu ser sua para todo sempre. Depois, apenas descontentamentos cruzaram seu caminho.

Não deveria haver apenas uma solução. Não é possível que não exista possibilidade de resposta diáfana e cristalina. É na transparência que deita a cada anoitecer. Cada frase que lhe pertence é coberta de verdade. Não há entrega pela metade, mas insiste em aceitar fragmentos de sentimentos errôneos e perdidos. As amarras são colocadas por ela mesma, junto com o pranto derramado por anos a fio. Se já sabe todas as sentenças, a amargura deveria ser o último resultado. Mas, é de finais que se alimenta. É da certeza do abandono que se faz.

Os seus erros são baseados no derradeiro número da equação. Testa os limites das afetividades até que possa declarar que sempre soube de tudo. Outra vez, se fecha para frases soltas e aparentemente doces. Mais uma vez, desiste de selar o encontro com o júbilo, pois tem fé na sua inexistência. Assim como os pássaros hão de cantar no amanhecer, seu suspiro final será precisamente confidencial. Com as lágrimas secando, olhará para o horizonte iluminado e proferirá o nome prometido.

 

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