Foi assim. Com os olhos quase fechando.
Quando a palavra esperança era apenas utopia. Quando seu sorriso havia se
desfeito. Quando seu coração estava quase petrificado. Foi assim que surgiu. É
bem verdade que tentou escapar mais uma vez. Tentou negar que os pedaços de sua
alma estavam sendo recolhidos. Tentou.
Porém, a leveza de sua aura contaminou o
cotidiano amargo. Porém, já consegue novamente enxergar as cores. Agora, outra
vez, pode desejar que venha o próximo anoitecer. Agora, o amanhecer ganha novos
significados e já não interessa mais os motivos pelos quais um dia foi tão
infeliz. Já não importa. Foi na primavera que encontrou acalento. Foi numa
tarde ensolarada que as decisões mudaram seu destino.
Volta a sonhar. Tolamente. Quase delirando
de júbilo. Deixando-se levar pelo som daquela voz. Embriagada de certezas
puras. Tonta e consumida pela necessidade de encontrar seu olhar.
De gritar para o mundo que entregou as chaves de uma vez só. Velozmente. Sem
pestanejar. Sim. Pulou desesperadamente para o abismo. Pulou completamente. O
mais rápido que pôde. Sem delongas, sem relutância, sem lutas.
Agora o som retorna. O jardim floresce. As
luzes se ascendem. Agora mergulha na sua pureza. Nos seus gestos. Nas suas
palavras adocicadas. O sentido da escrita regressa. As emoções renascem.
Deixa os sentimentos contaminarem suas palavras. Entrega-se vorazmente. Esquece o
outrora melancólico. Segue firme. Até o infinito. Até que o presente escorra de
suas mãos. Até o último segundo de sua existência. Até o derradeiro suspiro.
Até.