domingo, 30 de setembro de 2012

Outras


Fumar, beber, se entorpecer. Buscar uma saída, uma solução para uma vida menos entediante. Correr, enlouquecer, viver aventuras irracionais, somente para experimentar um pouco de caos, uma loucura momentânea. E tudo isso passa. Toda esta maresia e essa ventania. Toda a angústia que seca a aura e dilacera a mente em devaneios. Eles podem ser sim conscientes, porém insensatos, pensados, relatados, vivenciados. Positivos ou não. Relevantes ou não.

Os fatos existem e a madrugada parece eterna e a fumaça preenche o peito enfermo. São tantos caminhos, escolhas, referenciais, cobranças. Mais um pouco de desespero para descobrir o amanhã e nada dará certo. É preciso ter calma. É preciso não planejar.

As expectativas insistem em permanecer no subconsciente. Incertezas reais e um pouco de mágoa. O sabor é inigualável. É fel banhando no doce néctar de seu veneno. Depois sorri quase forçado para provar para si que pode encontrar o tão tolo júbilo. Aquele exclamado por quem um dia amou ou ama. Aquela translúcida sensação de que o melhor está por vir ou reside em sua existência.

Essas abomináveis certezas rodam cada amanhecer que tarda em chegar. Não é meramente uma ilusão. Essa é a questão. Em algo ou em algum lugar a tão desejável questão está prestes a ser resolvida. Talvez no final de algum arco-íris. Ou tudo isto é uma grande bobagem? São tantos círculos, tantos remédios, tantas escapatórias, tantas que se tornaram invisíveis.

Depois se cobre de lembranças e tenta refazer seu caminho. Retorna para o passado e, em alguns momentos, há uma esperança. Reconstruir sentimentos. Viver e reviver. E não tentar mais nada além disso. Ponto.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Mais um recomeço


 Seu coração flutuava. De melodia em melodia traçou um rumo. Num ritmo incessante, acelerado, viu rostos, imagens, miragens. A pulsação forte. Disparava. Sentia. Pertencia e jamais negava. Algumas lágrimas vinham. Logo depois, as novidades arrastavam suas pequenas mãos em direção de outras aventuras.

 Sem perceber foi deixando as sensações de lado. Sem perceber cristalizou sentimentos. A ventania puxou a realidade e a pôs em sua frente. Soube e compreendeu. Agora segue por outras direções. Agora esquece qualquer história vivida pela metade.

 Começa outra vez. Páginas em branco. Fumaça. Outro caos no amanhecer. Um completamente diferente. Somente um pouco de confusão em sua mente, para acertar as escolhas. Para entender quais serão os próximos passos.

 Talvez, um pouco gélida. Sem grandes ações ou demonstrações de afeto. Seu corpo cansa, a aura segue em rodopios singelos. Calma. Responde para sim. É necessário um pouco de paz. Não mais reluta. Descansa. Fecha os olhos para que venham os próximos dias. Para que sinta a primavera chegar. Respira. Esquece. Recomeça. Sim, recomeça mais uma vez.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Fim

 Não deveria dizer, mas também diz. Responde para que todo mal entendido se acabe. Sem perceber, sem achar, sem pensar corretamente. Falhas. Somente compreendeu após a madrugada. Aquela onde viu o amanhecer brilhar um pouco mais. 

 Sua vida estampada na vitrine. Sim. Agora deixa o último rastro. Porque é necessário explicar. Pois já descobriu o verso final para a segunda melodia. Agora retoma a primeira, para que este caos cesse. Para que não reste nenhuma dúvida. Para que os escritos impressos não sejam mal entendidos. Silêncio. Respira e pensa qual será o próximo passo.

 A verdade. Sentiu toda a trajetória. Confusa, alegre, candente, forte, engrandecedora, repleta e banhada pela maior concupiscência de todas. Doce e amargo se misturavam numa dança eterna. Giros e mais giros. Um pouco de fel e, logo depois, sorrisos intermináveis.

 O fim veio na hora certa. Sabe disso. Seu coração já estava em descompasso. Na verdade, os dois lados se perdiam em novas paixões. Não existia mais página para escrever naquela história. Talvez a juventude tola de uma tenha destruído a possível aproximação. Já não recorda o que afastou suas realidades.

 As horas passaram. O tempo. Então quis, verdadeiramente, não perder sua presença. Determinada sim, mas deveria ter enxergado os males dessa característica. Que a persegue em cada aurora, em cada gesto, em cada decisão. Os nomes vieram. Sim, a fada também sabe das marcas em flamas que foram marcadas na última página desta narrativa. Feitas, por aquela que viu o amor cedo. Chegaram.

  O pior é esse vai e vem. Esse sim é enojante, podre, contaminado. Algum corvo venenoso que leva e trás informações. Já não sabe qual companheiro de jornada trouxe tantas sentenças mal ditas. Cruel ou não, este foi o fim. Contudo, o mais importante relatar é que não deixou de viver. De sentir. De seguir o que aprendeu e acreditou com toda força de sua alma.

E não quis recomeçar. E não fingiu amizade alguma. Para ela era o melhor caminho. Ainda que fosse impossível, havia um resquício de crença no mais perfeito companheirismo possível. O mais leal e sincero. Um afeto singelo que restaria. Depois, esqueceu esse sonho e seguiu.

 Agora quer que entendam. Nenhuma palavra ruim será para a deusa. Não. Não é. Se lessem com cuidado. Se prestassem um pouco mais de atenção. Depois da mágoa de escutar tantas injúrias. Depois de uma tempestade de incertezas... Os mares se acalmaram e nada fará que volte atrás. Nada. Porque não há razão alguma para que rejeite ou tenha raiva. Não existe. Não mais. Entregou seu destino aos dias. Soube aquecer seu coração. Experimentou um pouco das confusões ébrias. 

 Restam, no final das contas, as boas recordações, os conselhos, a honesta pulsação de corpos. Somente isto. E sim, por mais que não queira entender, abençoa seus novos passos. Sorri enquanto olha para a lua, pois sabe de toda a sinceridade que mora em sua pele. Feliz. Todos nós. Então, como a outra diria, caminhemos. E agradece. E se cala. 

sábado, 8 de setembro de 2012

Muros



 Um espaço em branco. Com o coração livre corre em direção das mesmas estradas. Mergulhada no veneno da madrugada, as decisões parecem ainda mais turvas. Depois vem o amanhecer. E todas as ideias são purificadas pela razão. Não compreende. São caminhos tortuosos e já não os quer para nada.

 Ainda assim, basta provar um pouco mais daquele cálice que todas as vontades se transfiguram. Se precisasse escolher... não saberia a resposta. Contudo, nenhuma seria sim. Porque não existe necessidade em reviver nada, mas ébria não hesitaria ao dizer sim para qualquer melodia que escutasse. 

 A complexa tríade gira em sua embriagada mente. Abre os olhos. Sorri, pois a decisão não está em suas mãos. O destino brinda seu futuro com novas aventuras. E o ciclo da indecisão retornará em algum momento, porém tenta esquecer. 

 Se os olhos brilharem, se a noite permitir que sua alma repita tolices, se o desejo de dizer algo for mais forte... Nunca deixará de fazer o que a vontade mandar. Sem arrependimentos. Sem melancolia. Sem pestanejar, muito menos duvidar. E possui alguns tragos das marés insensatas. 

 Somente um pouco mais de incerteza e o caos mergulhará sua aura numa tempestade. E gosta. E sente. E deixa que a ventania leve seu corpo para o infinito prazer de flutuar em qualquer direção possível. 

domingo, 2 de setembro de 2012

Um sopro, um suspiro...


 Não importa se jorra veneno de suas veias, pois este sai doce de sua boca. Já não interessa se a aurora partiu em uma ventania inacabada. Terminaram-se as manhãs soterradas de indecisão e sede. Já não há mais escapatória para o novo percurso.

 Seus olhos brilham, enquanto a fumaça ascende. Seus lábios se inclinam para entregar a sentença final. O corpo treme. Milhões de espasmos se espalham pelo espaço. A alma translúcida conta toda a verdade escondida em sua aura.

 O peito arfante ressuscita o desejo preso na sua carne. Inebriada pela candente concupiscência que se espalha pelo ar, jamais retorna ao estado comum dos dias anteriores. As juras sussurradas alastram-se até o infinito e deixa que o destino transforme a realidade.

 Em delírios implora por mais. Sua voz é como uma lança. Uma espada em chamas fincada em seu coração. A pulsação, a sensação, emoções fluídas. Fervem. Sem mais respirar. Sem poder mais suportar, mas ainda sem relutar. Ergue-se. Voa. Clama. Injúrias. Escutam os gritos. Gritam. Cálices cobertos de energia rubra. Ardem. Mais e mais. Num giro.

 Abrem os marejados corpos. Olhares se encontram. O céu se apaga. A luz inalcançável da lua brilha e sua luminosidade jamais se finda, muito menos aquela madrugada. Sentidos recordados em puros gestos. Agora suas sílabas arrastadas ecoam em seus ouvidos. Agora a ventania escapa nas mãos de um ser sem respostas. Agora é só canto singelo sem meias palavras. Agora a escrita sangra para que saiam todos os versos inapropriados. 

 Paira sobre o paraíso. O celestial paraíso coberto de nuvens. Chega e percebe que no topo brilha a cristalina maré que corre e finda outra vez a tempestade. Perfume. Exala. O doce perfume trazido pelo florescente amanhecer. Silêncio. Calam-se. Agora somente o tempo trará o reencontro daquelas duas perdidas almas. Enquanto os sinos não tocam, enquanto a primavera não chega, enquanto tudo é somente um sopro no meio da bruma cinza.