quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Depois do sopro...







Ela vai escrever sim sobre suas raízes, sobre as cores que a cercam, sobre dias de luz ou de caos incessante. Ela vai recordar do seu sorriso e proclamar para o destino sobre o reencontro. Mas, quem seria dessa vez? Sem nomear a sua canção de outrora ou a de agora, revela pouco para que possa respirar com mais cautela. Ela que é filha do vento, das águas e dos céus, reclama de guardar segredos cobertos com um véu.

Por que parar agora de prosseguir com o seu despudor, se tudo que sonha é cavalgar em sua direção e ressucitar os versos dessa paixão desmedida? Porque sabe que quando pisar nos solos sagrados, sua alma brilhará lancinante e sem gota alguma de horizonte nefasto. Quando as janelas se abrirem e vislumbrar aquele sol radiante, a sua gargalhada será tão profunda, que nenhuma rima poderá abarcar o que habita seu coração.

No fundo da memória, a música do príncipe galanteador ressoa. Nas suas células, a sobrevivência aos males do retorno, vibram cantantes e fagueiras. Afinal, como poderia ser diferente? Escutou os sinos, os pássaros e viu a praça rosada, com flores que cobriam os pés. Ela viu toda a repetição desconexa do destino, que a esperava de braços abertos e um gole quente de café. Depois, nada inútil fazia mais sentido. A fumaça se acabou, a tristeza e o pranto secaram, ela era inteira ali, coberta pelo toque do seu silêncio.

É de ocupar o seu lugar no mundo que está falando. É sobre nada mais importar do que aquele chão de pedra, gelado e cheio de esverdeado de outras eras. É sobre resgatar cada tempestade perdida, para que possa abraçar vorazmente tudo que lhe pertence. Cada caminhada e brisa gélida serão suas. Ela é dona dessa estrada, que jamais irá abandonar novamente. Por isso que os retratos já estão descobertos, os ponteiros alinhados e a névoa desfeita.

Ruma em direção da jornada que lhe pertence. Flutua em novas escolhas para que ganhe a chance de viver com honra, o que foi escrito para ser conquistado por ela. A Imperatriz há de jorrar em flores os seus versos, construindo passo por passo a alvorada planejada na programação. Suspira e encara o quadro, o plano e o deslocamento. Guarda na aura o sussurro sobre sua luz. Ao cerrar os olhos, enxerga o mapa para o regresso.

Sim, é anunciada mais uma véspera de transformação.

Canto para o fim do mundo


O que acontece com toda essa gente

que dizimada comumente

ainda tem tempo para a guerra?


O que há ainda de sede

inescrupulosa e sagaz

que danifica tudo que o Universo traz

que solidifica as amarras do terror?


É dia sim de agradecer quem já não mais erra,

quem chama pelo invisível e pede

que se alastre por toda a nossa terra

mais do que instantes de horror.  




segunda-feira, 3 de junho de 2024

Jubileu…


Finitude e um céu estrelado. A candência se transforma em um empoeirado desejo de permanência. Os olhos reclamam, transfiguram-se, torna-se outros. A voz suave entoa promessas, que soam como vestígios de um passado recente. Quem seriam? Quem é? Quantas estrelas hão de cair até que os pés se banhem de sal, outra vez.

Em um deja vu constante, ela senta, espera e frui o filme da sua vida. Ouroboros. Fim e início. Início e fim. Porque não tão somente de castelos, Imperatrizes e cânticos se constroem horizontes falidos, decrescentes e em constante escassez. Também existe o fruto de sua terra que, emputrecido, decompõe-se em suas mãos, enquanto o dia anoitece e as lágrimas escorrem desesperadas.

Há sentido ainda para alguma canção? Há brilho na aura que resista as chacoalhadas da vida? Há amor incondicional? Há admiração daquelas que são disponíveis? Existe força para compreender que somente as cantigas com dono reforçaram sua alma ensandecida? Por que parar? Por que esperar? Por que ouvir badalas que rompem no peito e se tornam náusea, quando a resposta está bem na sua frente?

As perguntas não têm razão palpável, tampouco reluzem, em véspera de caos. Porque quando a décima nota da sonata ressoar, ela saberá que o pranto foi em vão e todas as certezas estarão confirmadas. Até lá, segue no aguardo de uma nova frase de sentido inefável, proferida no vazio que há em seu peito em chamas. Até a próxima procissão, até a próxima promessa, até a próxima encarnação…

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Aquela outra inspiração...

É o mar de Bragança que lhe encanta. Com céus iluminados e a riqueza de sua rigidez sinuosa. É a lágrima salgada em fel, que lhe apavora em véspera de despudor e descaso, por todas as quimeras que hão de vir e por todas as sonatas que não hão de tocar. Em seu quequeísmo pueril, joga-se no abismo da saudade, impunha a sua dor em pleno espasmo, sacrifica a sanidade por uma mera comunicação. E eis que no dia da paixão, saberá se libertar de qualquer amarra do outrora retumbante.

Ela que é filha do vento e dona dos passos aguados dos rios velozes de sua tão amada terra, cumpre os sincretismos calcados no chão de mármore daquela mansão, renega certezas, determinismos e absolutismos, volta para o ponto inicial e os sinos passam a badalar incessantes. Quase zonza com o alarmante som de seu coração, escreve confusa, cheia de emoção, sobre ela, ele e as outras.





Porque a primeira página sempre esteve faltando e já não se importa mais com essa equação. O que é relevante é o agora, solitário, indomável e flutuante. O ontem já é pó, com as manchas cinzentas da verdade. O amanhã é névoa e puro descaso. O hoje não. Este é menino que joga com as flores, brilhantes na alvorada do perdão, do silêncio, das tristezas e alegrias, daquele final derradeiro do dia, de todo consumo de sofreguidão. Ao seu lado sim, agora sente, cada cílio dos olhos vibrarem, cada centímetro da pálpebra a tremer, cada gota de sangue que corre em suas veias.

Ao cerrar os olhos relembra da ceia, dos presentes e do oceano que batia em sua porta. Aqueles dos rostos semelhantes ao seu foram imergindo e ficando apenas na memória seleta de um tempo já morto nesta espaço lógico do Universo. Todavia, os ponteiros do relógio se transfiguram todos os dias e aquele encontro segue em repetição. Quando, então, virou a menina da varanda? Antes ou depois de sua partida? Cronos lhe disse a verdade e foi sincero em suas ações? Ou o fim já estava dado, antes mesmo que pudesse tentar?

Pois, neste instante calorento e pálido, roga aos céus por uma distração, porque a mera recordação de suas impossibilidades lhe trancam a garganta vorazmente. Foste ela enfiada em júbilo infantil ou daquelas que lhe trouxeram apenas perturbação, é chegada a marca certeira dos ponteiros, na qual a água inunda os pensamentos e a salva do desgosto da desistência. Pois fica, até onde eles e elas quiserem, até o espaço recorrente dos horários acertados, dos planos e programações irremediáveis, de um ser, que domina e envaidece apenas pelo encontro de uma canção. 

sexta-feira, 12 de abril de 2024

A dona do Olimpo



O gosto da sua boca é como um paraíso celeste, que casa com seu desejo de visitar novos céus. Seus olhos fixos nos dela fazem a pulsação acelerar e achar novas formas de sanar desejos secretos do corpo e do coração. Quando as suas peles se encontram, é como se suas almas também se encontrassem.

É uma dança em um ritmo compassado, na qual as velocidades são cambiadas e, por isso, o tempo é outro quando está ao seu lado. Enquanto narra seus pensamentos, todo horizonte dentro da Imperatriz resplandece e tudo é festa, é sopro leve, em dias coloridos que já foram cinzas. 

Seu nome é melódico, seu sorriso cativa, sua voz amolece cada fibra que habita sua aura. Ela é uma nova canção, mas é mais do que isso, porque não quer ser. A sua despretensão pretensiosa é um charme inebriante, que faz o mundo se calar e somente o que ela diz importar. 

Cada segundo de sua respiração parece uma dádiva. A existência dela é como um riacho, que banha a alvorada e o silêncio, que transforma e renova, que é calmo, porém jamais irá se arrefecer. E todo o decorrer sereno de suas águas pode virar, ressignificando caminhos e intensidades.

Aí, ela passa a ser correnteza brava, que derruba o que vier pela frente. Esta é a cantiga que ressoa em seus dias agora. E sorri, enquanto escreve em seu diário de confissões. Ainda é cedo, talvez, para um codinome para esta mulher que tem preenchido seus dias de alegria. Talvez.

No entanto, pouco importa como a chamará. O que vale dizer nesta escrita confusa é que ela existe e, porque ela existe, tudo que habita o Tempo e o Espaço é maior, é melhor e mais sincero.

Então, que possa continuar desbravando esse afluente cheio de mistérios a serem desvendados. Então, que seus lábios se encontrem e a mágica continue a acontecer. Então, que viva inteiramente cada trecho desta partitura, que segue orgânica, até o presente momento.

Então, que se encante com cada gesto, com cada nova memória que ganha espaço no seu caminhar. Porque ela é um pouco de tudo que já conheceu e totalmente distinta do que já experienciou. Assim, ela já inicia uma espécie de morada no seu jardim. 

Porque ela é uma correnteza de chances, do que ainda está por vir e do que já foi, em frenesi absoluto, em tons vívidos e tão profundos, que já se sente um pouco sua a cada aurora flutuante. Pois ela tem sim algo de divino em sua existência…Ainda que seja tão humana, tão palpável.

É, ela um manancial de adjetivos tão profundos quanto os seus discursos sobre a vida. Do outro lado, a Imperatriz que a escuta, tão concentrada em seus argumentos, sorri e pensa assertiva: é, ela é uma Olimpiana, só pode ser…

sábado, 6 de abril de 2024

As palavras da Imperatriz


Como seguir, quando o coração está em brasa e, logo em breve, virará pó? Como saber o que espera o horizonte seguinte, se sente uma tontura cambaleante, quando seu nome chega dilacerando a mente? O que esperar de um amor ilusório, que foi construído de más intenções ou confusões de propósito? 

É impossível saber quantos céus cabem neste desabamento compulsivo de emoções, que deixam apenas saudade, medo, angústia e falta de zelo. Cravando a espada final em sua alma despedaçada, ela foi também Imperatriz, como aquela que tanto a amava. 

Mas foi no despudor do verso sinceramente doloroso, que deixou que fosse para nunca mais voltar. As suas vestes cintilantes, na verdade eram fantasia dominante, daquela que controla os seus somente por diversão absolutamente sua. 

Não ouviu, tão distraída, os pássaros soprarem a solução, naquele outono, porque se agarrou na impressão de que as suas frases soltas formavam um sentido. Ela, tão sua, tão fiel, acreditou em cada cartão, em cada sentença escrita em pedaços de papel e abandonou a sanidade, para decifrar mitos, que na verdade eram mentiras. Nunca houve sintonia ou conexão.

O que aconteceu foi um tombo, uma virada de chave, um rompante impactante, de um devaneio sufocante, de um verão que jamais acabará. Por isso, ele, o outono, não mais regressará. Sem jantares, olhares, flores, colares e segredos revelados, os dias desse sentimento estão contados, porque há de arrancá-los do seu peito.

Com coragem em prontidão, lançará mão de todas as forças que habitam o seu corpo, e caminhará de volta por entre os jardins que jamais deveria ter deixado de zelar. Seu caminho é seu e jamais pensou que a sacristã do controle, diria que ela mesma não poderia compartilhar a verdade do que são seus dias. 

Porque se quis tirar até mesmo a metáfora do girassol dela, é porque ela mesma não é o girassol que pensara ser. Ela era miragem. Era pesadelo, trajando vestes de sonho. Agora o infinito se acaba e já não pode ser mais poesia. Todavia, será, na véspera do novo dia, a Sacerdotisa mais iluminada do resplandecer da nova aurora reluzente. 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Mercúrio Retrógrado




Lei do retorno, retrogradações, astrologia, tarô, são tantos auxílios. Mas, nenhum planeta, nenhuma carta, nenhum nada poderá salvar aqueles que não olham para si. Contudo, em uma tentativa de melhorar os rumos da sua vida, colocou a mão em pólvora e explodiu todas as palavras de vez.

A cura virá retumbante, mas não repentinamente. Mas é na coragem que tenta firmar os seus pés. É a única forma que sabe fazer as coisas. Dizer tudo é uma maneira de lançar para outro a responsabilidade? Talvez. Mas, entre erros e acertos, conseguiu concluir o ciclo das quatro cavaleiras do apocalipse. Risos.

É, é bem verdade que deixou algumas outras para depois. O que dizer para a sereia, o florescer e a olhos cor de esmeralda, não é mesmo? Começou pelas mais difíceis e agora tomará um tempo para respirar. 

De um lado, ouviu tudo que precisava, do outro, disse duplamente tudo que esteve sempre engasgado. Ah, a não ser pelo choque cultural, as arestas foram apontadas. Espera que as ações alheias melhorem no futuro. Por elas mesmas. 

Quem já se viu querer alguma coisa que você nunca ofereceu, não é mesmo? No entanto, pouco importa em seus passos o que cantigas antigas quebradas irão fazer com seus discos arranhados e seus príncipes enlameados de controle ou descaso. 


Há uma estrada cintilante, que brilha para ela, pedindo que seja Imperatriz, até se tornar Sacerdotisa. Quem sabe não chegou o momento de finalmente consultar somente a si e esquecer a obsessão por selecionar comandantes para sua jornada. Elas já ensinaram e fizeram a sua parte. Não será injusta. 

E também sabe que, dentro de todo uma engodo e uma rebarba de defeitos e esquisitices, essas canções nunca prometeram o que ela queria. São as musas do sol, que têm esse quê de leonino no mapa, mas sempre com pitada de indecisão, manipulação ou drama. Ar e água banhando uma terra seca e desfalecida, que resseca e torna-se cada dia mais escassa. Sobretudo quando há a audácia de querer controlar o que o outro diz em lugares que não lhe cabem. 

A arrogância é tola, quando os muros desabam e somente existe um rei nu para ser olhado por uma multidão debochada. Por que esta autoridade desperdiça seu tempo olhando para as cartas de um súdito, que se nutre de metáforas, quando poderia notar no espelho que está despido?

Sem o comportamento apropriado, o rei despido está fadado a repetir esses ciclos, que sempre vive. A Imperatriz não julga, porém nunca vira antes atitudes assim de um monarca. Não é possível que seja comum essa troca de intimidades entre integrantes de mundos tão distintos, sem que exista uma fronteira ultrapassada.

Uma vez, uma dessas cantigas disse que todos têm os seus telhados de vidro. É preciso abrir bem os olhos e ter a certeza de quem está com os trajes corretos ou não. Ao mesmo tempo, ela sabe que existem números nessa equação que lutam por suas melhoras mentais e espirituais.

Pelo menos, aquelas que estão fora de jardins hiper protegidos se melhoram como podem. Mas somente a Imperatriz nasceu em solo sagrado, na terra confusa, mas que reserva consigo os maiores guardiões do mundo inteiro. É neles que pensa enquanto finaliza a sua missiva sobre a atividade terapêutica 02. 

É sorrindo também, enquanto pensa como é absurdo como todas elas chegam nesses escritos em algum momento e não param de ler até que não sejam mais assunto. O Devaneios Conscientes é da Imperatriz e de mais ninguém. São seus os devaneios. Bem, e a consciência também. Ainda que em devaneios… 

Se usará termos de sua escolha para falar de futuras amadas, não interessa a ninguém, seja ela borboleta, deusa, sereia ou girassol.  Mas, agora, segue para o que importa para esse blog. Como chamar a cantiga número…número…15? 

Em breve, iniciará a jornada de dissertar sobre ela, porque este diário é real, mas é um tanto fanfic também. A canção nova está tão na realidade, que não precisou de ficção. Todavia, em algum momento irá escrever sobre ela… sobre a musa dos seus sonhos…