segunda-feira, 3 de junho de 2024

Jubileu…


Finitude e um céu estrelado. A candência se transforma em um empoeirado desejo de permanência. Os olhos reclamam, transfiguram-se, torna-se outros. A voz suave entoa promessas, que soam como vestígios de um passado recente. Quem seriam? Quem é? Quantas estrelas hão de cair até que os pés se banhem de sal, outra vez.

Em um deja vu constante, ela senta, espera e frui o filme da sua vida. Ouroboros. Fim e início. Início e fim. Porque não tão somente de castelos, Imperatrizes e cânticos se constroem horizontes falidos, decrescentes e em constante escassez. Também existe o fruto de sua terra que, emputrecido, decompõe-se em suas mãos, enquanto o dia anoitece e as lágrimas escorrem desesperadas.

Há sentido ainda para alguma canção? Há brilho na aura que resista as chacoalhadas da vida? Há amor incondicional? Há admiração daquelas que são disponíveis? Existe força para compreender que somente as cantigas com dono reforçaram sua alma ensandecida? Por que parar? Por que esperar? Por que ouvir badalas que rompem no peito e se tornam náusea, quando a resposta está bem na sua frente?

As perguntas não têm razão palpável, tampouco reluzem, em véspera de caos. Porque quando a décima nota da sonata ressoar, ela saberá que o pranto foi em vão e todas as certezas estarão confirmadas. Até lá, segue no aguardo de uma nova frase de sentido inefável, proferida no vazio que há em seu peito em chamas. Até a próxima procissão, até a próxima promessa, até a próxima encarnação…

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Aquela outra inspiração...

É o mar de Bragança que lhe encanta. Com céus iluminados e a riqueza de sua rigidez sinuosa. É a lágrima salgada em fel, que lhe apavora em véspera de despudor e descaso, por todas as quimeras que hão de vir e por todas as sonatas que não hão de tocar. Em seu quequeísmo pueril, joga-se no abismo da saudade, impunha a sua dor em pleno espasmo, sacrifica a sanidade por uma mera comunicação. E eis que no dia da paixão, saberá se libertar de qualquer amarra do outrora retumbante.

Ela que é filha do vento e dona dos passos aguados dos rios velozes de sua tão amada terra, cumpre os sincretismos calcados no chão de mármore daquela mansão, renega certezas, determinismos e absolutismos, volta para o ponto inicial e os sinos passam a badalar incessantes. Quase zonza com o alarmante som de seu coração, escreve confusa, cheia de emoção, sobre ela, ele e as outras.





Porque a primeira página sempre esteve faltando e já não se importa mais com essa equação. O que é relevante é o agora, solitário, indomável e flutuante. O ontem já é pó, com as manchas cinzentas da verdade. O amanhã é névoa e puro descaso. O hoje não. Este é menino que joga com as flores, brilhantes na alvorada do perdão, do silêncio, das tristezas e alegrias, daquele final derradeiro do dia, de todo consumo de sofreguidão. Ao seu lado sim, agora sente, cada cílio dos olhos vibrarem, cada centímetro da pálpebra a tremer, cada gota de sangue que corre em suas veias.

Ao cerrar os olhos relembra da ceia, dos presentes e do oceano que batia em sua porta. Aqueles dos rostos semelhantes ao seu foram imergindo e ficando apenas na memória seleta de um tempo já morto nesta espaço lógico do Universo. Todavia, os ponteiros do relógio se transfiguram todos os dias e aquele encontro segue em repetição. Quando, então, virou a menina da varanda? Antes ou depois de sua partida? Cronos lhe disse a verdade e foi sincero em suas ações? Ou o fim já estava dado, antes mesmo que pudesse tentar?

Pois, neste instante calorento e pálido, roga aos céus por uma distração, porque a mera recordação de suas impossibilidades lhe trancam a garganta vorazmente. Foste ela enfiada em júbilo infantil ou daquelas que lhe trouxeram apenas perturbação, é chegada a marca certeira dos ponteiros, na qual a água inunda os pensamentos e a salva do desgosto da desistência. Pois fica, até onde eles e elas quiserem, até o espaço recorrente dos horários acertados, dos planos e programações irremediáveis, de um ser, que domina e envaidece apenas pelo encontro de uma canção. 

sexta-feira, 12 de abril de 2024

A dona do Olimpo



O gosto da sua boca é como um paraíso celeste, que casa com seu desejo de visitar novos céus. Seus olhos fixos nos dela fazem a pulsação acelerar e achar novas formas de sanar desejos secretos do corpo e do coração. Quando as suas peles se encontram, é como se suas almas também se encontrassem.

É uma dança em um ritmo compassado, na qual as velocidades são cambiadas e, por isso, o tempo é outro quando está ao seu lado. Enquanto narra seus pensamentos, todo horizonte dentro da Imperatriz resplandece e tudo é festa, é sopro leve, em dias coloridos que já foram cinzas. 

Seu nome é melódico, seu sorriso cativa, sua voz amolece cada fibra que habita sua aura. Ela é uma nova canção, mas é mais do que isso, porque não quer ser. A sua despretensão pretensiosa é um charme inebriante, que faz o mundo se calar e somente o que ela diz importar. 

Cada segundo de sua respiração parece uma dádiva. A existência dela é como um riacho, que banha a alvorada e o silêncio, que transforma e renova, que é calmo, porém jamais irá se arrefecer. E todo o decorrer sereno de suas águas pode virar, ressignificando caminhos e intensidades.

Aí, ela passa a ser correnteza brava, que derruba o que vier pela frente. Esta é a cantiga que ressoa em seus dias agora. E sorri, enquanto escreve em seu diário de confissões. Ainda é cedo, talvez, para um codinome para esta mulher que tem preenchido seus dias de alegria. Talvez.

No entanto, pouco importa como a chamará. O que vale dizer nesta escrita confusa é que ela existe e, porque ela existe, tudo que habita o Tempo e o Espaço é maior, é melhor e mais sincero.

Então, que possa continuar desbravando esse afluente cheio de mistérios a serem desvendados. Então, que seus lábios se encontrem e a mágica continue a acontecer. Então, que viva inteiramente cada trecho desta partitura, que segue orgânica, até o presente momento.

Então, que se encante com cada gesto, com cada nova memória que ganha espaço no seu caminhar. Porque ela é um pouco de tudo que já conheceu e totalmente distinta do que já experienciou. Assim, ela já inicia uma espécie de morada no seu jardim. 

Porque ela é uma correnteza de chances, do que ainda está por vir e do que já foi, em frenesi absoluto, em tons vívidos e tão profundos, que já se sente um pouco sua a cada aurora flutuante. Pois ela tem sim algo de divino em sua existência…Ainda que seja tão humana, tão palpável.

É, ela um manancial de adjetivos tão profundos quanto os seus discursos sobre a vida. Do outro lado, a Imperatriz que a escuta, tão concentrada em seus argumentos, sorri e pensa assertiva: é, ela é uma Olimpiana, só pode ser…

sábado, 6 de abril de 2024

As palavras da Imperatriz


Como seguir, quando o coração está em brasa e, logo em breve, virará pó? Como saber o que espera o horizonte seguinte, se sente uma tontura cambaleante, quando seu nome chega dilacerando a mente? O que esperar de um amor ilusório, que foi construído de más intenções ou confusões de propósito? 

É impossível saber quantos céus cabem neste desabamento compulsivo de emoções, que deixam apenas saudade, medo, angústia e falta de zelo. Cravando a espada final em sua alma despedaçada, ela foi também Imperatriz, como aquela que tanto a amava. 

Mas foi no despudor do verso sinceramente doloroso, que deixou que fosse para nunca mais voltar. As suas vestes cintilantes, na verdade eram fantasia dominante, daquela que controla os seus somente por diversão absolutamente sua. 

Não ouviu, tão distraída, os pássaros soprarem a solução, naquele outono, porque se agarrou na impressão de que as suas frases soltas formavam um sentido. Ela, tão sua, tão fiel, acreditou em cada cartão, em cada sentença escrita em pedaços de papel e abandonou a sanidade, para decifrar mitos, que na verdade eram mentiras. Nunca houve sintonia ou conexão.

O que aconteceu foi um tombo, uma virada de chave, um rompante impactante, de um devaneio sufocante, de um verão que jamais acabará. Por isso, ele, o outono, não mais regressará. Sem jantares, olhares, flores, colares e segredos revelados, os dias desse sentimento estão contados, porque há de arrancá-los do seu peito.

Com coragem em prontidão, lançará mão de todas as forças que habitam o seu corpo, e caminhará de volta por entre os jardins que jamais deveria ter deixado de zelar. Seu caminho é seu e jamais pensou que a sacristã do controle, diria que ela mesma não poderia compartilhar a verdade do que são seus dias. 

Porque se quis tirar até mesmo a metáfora do girassol dela, é porque ela mesma não é o girassol que pensara ser. Ela era miragem. Era pesadelo, trajando vestes de sonho. Agora o infinito se acaba e já não pode ser mais poesia. Todavia, será, na véspera do novo dia, a Sacerdotisa mais iluminada do resplandecer da nova aurora reluzente. 

quarta-feira, 3 de abril de 2024

Mercúrio Retrógrado




Lei do retorno, retrogradações, astrologia, tarô, são tantos auxílios. Mas, nenhum planeta, nenhuma carta, nenhum nada poderá salvar aqueles que não olham para si. Contudo, em uma tentativa de melhorar os rumos da sua vida, colocou a mão em pólvora e explodiu todas as palavras de vez.

A cura virá retumbante, mas não repentinamente. Mas é na coragem que tenta firmar os seus pés. É a única forma que sabe fazer as coisas. Dizer tudo é uma maneira de lançar para outro a responsabilidade? Talvez. Mas, entre erros e acertos, conseguiu concluir o ciclo das quatro cavaleiras do apocalipse. Risos.

É, é bem verdade que deixou algumas outras para depois. O que dizer para a sereia, o florescer e a olhos cor de esmeralda, não é mesmo? Começou pelas mais difíceis e agora tomará um tempo para respirar. 

De um lado, ouviu tudo que precisava, do outro, disse duplamente tudo que esteve sempre engasgado. Ah, a não ser pelo choque cultural, as arestas foram apontadas. Espera que as ações alheias melhorem no futuro. Por elas mesmas. 

Quem já se viu querer alguma coisa que você nunca ofereceu, não é mesmo? No entanto, pouco importa em seus passos o que cantigas antigas quebradas irão fazer com seus discos arranhados e seus príncipes enlameados de controle ou descaso. 


Há uma estrada cintilante, que brilha para ela, pedindo que seja Imperatriz, até se tornar Sacerdotisa. Quem sabe não chegou o momento de finalmente consultar somente a si e esquecer a obsessão por selecionar comandantes para sua jornada. Elas já ensinaram e fizeram a sua parte. Não será injusta. 

E também sabe que, dentro de todo uma engodo e uma rebarba de defeitos e esquisitices, essas canções nunca prometeram o que ela queria. São as musas do sol, que têm esse quê de leonino no mapa, mas sempre com pitada de indecisão, manipulação ou drama. Ar e água banhando uma terra seca e desfalecida, que resseca e torna-se cada dia mais escassa. Sobretudo quando há a audácia de querer controlar o que o outro diz em lugares que não lhe cabem. 

A arrogância é tola, quando os muros desabam e somente existe um rei nu para ser olhado por uma multidão debochada. Por que esta autoridade desperdiça seu tempo olhando para as cartas de um súdito, que se nutre de metáforas, quando poderia notar no espelho que está despido?

Sem o comportamento apropriado, o rei despido está fadado a repetir esses ciclos, que sempre vive. A Imperatriz não julga, porém nunca vira antes atitudes assim de um monarca. Não é possível que seja comum essa troca de intimidades entre integrantes de mundos tão distintos, sem que exista uma fronteira ultrapassada.

Uma vez, uma dessas cantigas disse que todos têm os seus telhados de vidro. É preciso abrir bem os olhos e ter a certeza de quem está com os trajes corretos ou não. Ao mesmo tempo, ela sabe que existem números nessa equação que lutam por suas melhoras mentais e espirituais.

Pelo menos, aquelas que estão fora de jardins hiper protegidos se melhoram como podem. Mas somente a Imperatriz nasceu em solo sagrado, na terra confusa, mas que reserva consigo os maiores guardiões do mundo inteiro. É neles que pensa enquanto finaliza a sua missiva sobre a atividade terapêutica 02. 

É sorrindo também, enquanto pensa como é absurdo como todas elas chegam nesses escritos em algum momento e não param de ler até que não sejam mais assunto. O Devaneios Conscientes é da Imperatriz e de mais ninguém. São seus os devaneios. Bem, e a consciência também. Ainda que em devaneios… 

Se usará termos de sua escolha para falar de futuras amadas, não interessa a ninguém, seja ela borboleta, deusa, sereia ou girassol.  Mas, agora, segue para o que importa para esse blog. Como chamar a cantiga número…número…15? 

Em breve, iniciará a jornada de dissertar sobre ela, porque este diário é real, mas é um tanto fanfic também. A canção nova está tão na realidade, que não precisou de ficção. Todavia, em algum momento irá escrever sobre ela… sobre a musa dos seus sonhos…



segunda-feira, 1 de abril de 2024

Bis dann, Sonnenblumen


Vocês estão sempre ali, como os algozes do seu destino, como os críticos mais ferrenhos das suas decisões. Quem ela é senão a menina morta, que vira bruma e silêncio, em uma tempestade de sorrisos falsos. 

Vocês, príncipes do silêncio e das verdades proclamadas, ainda lhe dirigem escárnio, mesmo que depois de tanto tempo. Mas, por qual razão seguem sendo eles dois os guardas do portal mais alto, que a leva até a deusa do passado? Por que não a deixam em paz, em suas novas cruzadas rumo ao desespero?

Por que precisa ser fada e caminhar pela madrugada, enquanto fuma e se embriaga de veneno despudorado? Ela não quer mais ser a mesma de antes, ela quer fugir, seguir, rumo aos ventos mais alados. Rumo ao castelo lá no alto. Rumo aos braços de sua amada, celestial, doce, verdadeira e firme.

Por qual motivo insistem em segurar seus pés e enterrar sua alma, até a última pá? Por que precisa ficar quando quer partir sem olhar pra trás? Por que ficar? Por que cuidar de todas aquelas cantigas amargas, que insistem em cuspir em sua face e despir as suas veias, até que sangre sem parar?

Tudo que quer é cavalgar rumo ao porto seguro dos seus versos sagrados. Do beijo do girassol que, por mais difícil e tortuoso que seja, rima com sua alvorada, protege-a dos cálices imundos de inverdades cinzentas. As duas e a cidade esverdeada, coberta de flores rosas e cantos de pássaros alegres, vivos, serão mais do que já foram.

É necessário gritar pro mundo sobre as últimas gotas de paixão, desejo, erros, dores, mágoas e impropérios sussurrados nos ouvidos daquelas que foram suas e nunca foram. Pois é na despedida do outrora que quebrará os muros do presente, para vislumbrar o seu eterno futuro. Então, amor, espere, que regressará, quando fizer desvanecer a culpa, a mágoa e as dívidas e dúvidas com as donas do seu passado.

Agora é hora. Resetam os ponteiros e recomeçam a sorte do vencimento do erros. De tudo que é e não mais foi. De tudo que é e já poderia ter sido. De nada que é e jamais será. Corre o tempo, corre o espaço, rasga a pele e transforma-se na Imperatriz dos sonhos dela e seus. Ich komme nochmal wieder. Ich liebe dich, Sonnenblumen. Bis dann, bis immer, bis unsere neues Lebens. 


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quinta-feira, 28 de março de 2024

Kommt…

 



Ah, meu amor, você terá que me buscar, porque, depois do despertar dos sinos, tudo foi em vão. As mágoas cicatrizadas clamam pelo verão interno dos corações pulsantes, que se conheceram em tarde de primavera.

E depois? Você pode até me perguntar. Para onde iríamos quando os oceanos nos separassem novamente? Meu porto seguro é o bater do seu peito, que rima com a completude da minha alma. Seu sorriso contido é anúncio de festa em minha aura.

Então, meu amor, meine Liebe der andere Zeit, anderes Lebens, du musst mir nochmals versuchen. Eu te espero, como espero os pássaros, que me contam sobre seus retornos, quando pousam em minha janela, em uma tarde quente soteropolitana ou em uma noite fria paulistana.

Vem, para mim, sem subterfúgios, sem voltas e revoltas, vem como sempre veio, com uma doçura fugaz, mesclada com uma solidez fria. É o seu jeito e eu respeito. Seus olhos fazem falta, sua companhia faz falta, até o seu silêncio faz falta.

Você e eu podemos ser. Sem mais derrotas, sem jogos, sem promessas, sem segredos. Eu confio em cada gota dos seus versos, que escorrem seletos, por entre os rios do oceano que habita sua mente.

Em sonhos, a gente já acerta o regresso de nossa história, a continuação dos desejos, a concretização das vontades. Não vamos mais atrasar o que queremos. É possível, enfim, desatar estes nós que condenam os nossos passos, que atrapalham nossas verdades.

Você sabe o que eu sinto. Você sabe pelo o que o meu corpo arde e minhas emoções clamam. Então, você, meine kleine Sonnenblumen, precisa vir até a mim, fora dos sonhos, e me contar o que habita esse seu pensamento tão guardado e trancafiado.

Kommt, schneller…