sexta-feira, 10 de maio de 2024

Aquela outra inspiração...

É o mar de Bragança que lhe encanta. Com céus iluminados e a riqueza de sua rigidez sinuosa. É a lágrima salgada em fel, que lhe apavora em véspera de despudor e descaso, por todas as quimeras que hão de vir e por todas as sonatas que não hão de tocar. Em seu quequeísmo pueril, joga-se no abismo da saudade, impunha a sua dor em pleno espasmo, sacrifica a sanidade por uma mera comunicação. E eis que no dia da paixão, saberá se libertar de qualquer amarra do outrora retumbante.

Ela que é filha do vento e dona dos passos aguados dos rios velozes de sua tão amada terra, cumpre os sincretismos calcados no chão de mármore daquela mansão, renega certezas, determinismos e absolutismos, volta para o ponto inicial e os sinos passam a badalar incessantes. Quase zonza com o alarmante som de seu coração, escreve confusa, cheia de emoção, sobre ela, ele e as outras.





Porque a primeira página sempre esteve faltando e já não se importa mais com essa equação. O que é relevante é o agora, solitário, indomável e flutuante. O ontem já é pó, com as manchas cinzentas da verdade. O amanhã é névoa e puro descaso. O hoje não. Este é menino que joga com as flores, brilhantes na alvorada do perdão, do silêncio, das tristezas e alegrias, daquele final derradeiro do dia, de todo consumo de sofreguidão. Ao seu lado sim, agora sente, cada cílio dos olhos vibrarem, cada centímetro da pálpebra a tremer, cada gota de sangue que corre em suas veias.

Ao cerrar os olhos relembra da ceia, dos presentes e do oceano que batia em sua porta. Aqueles dos rostos semelhantes ao seu foram imergindo e ficando apenas na memória seleta de um tempo já morto nesta espaço lógico do Universo. Todavia, os ponteiros do relógio se transfiguram todos os dias e aquele encontro segue em repetição. Quando, então, virou a menina da varanda? Antes ou depois de sua partida? Cronos lhe disse a verdade e foi sincero em suas ações? Ou o fim já estava dado, antes mesmo que pudesse tentar?

Pois, neste instante calorento e pálido, roga aos céus por uma distração, porque a mera recordação de suas impossibilidades lhe trancam a garganta vorazmente. Foste ela enfiada em júbilo infantil ou daquelas que lhe trouxeram apenas perturbação, é chegada a marca certeira dos ponteiros, na qual a água inunda os pensamentos e a salva do desgosto da desistência. Pois fica, até onde eles e elas quiserem, até o espaço recorrente dos horários acertados, dos planos e programações irremediáveis, de um ser, que domina e envaidece apenas pelo encontro de uma canção. 

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