domingo, 28 de abril de 2013

Rodopio

 Já é hora de escrever novamente. Os sinos não param de tocar e quando menos se espera os fantasmas surgem outra vez. Talvez para corromper os disparos singelos de sua alma aprisionada em requisitos inúteis, em mergulhos profanos, em tardias certezas e desenganos.

 Sim. As horas escorriam sem ao menos se dar conta. Sim, um sorriso sincero destrói os prantos de outrora. Agora já não mais interessa coisa alguma. É o momento de renovação. Para que mais um ciclo se complete. Para que a jornada faça sentido. 

 Por isso precisa negar impulsos, sentenças pré-estabelecidas, relutâncias, olhares que mentem. 

 Quando apagava as lembranças, as sinfonias tocaram uníssonas no mesmo instante. Uma rajada de luz cobriu os olhos, o verde esmeralda apagou qualquer dúvida, a espada púrpura que arrancava de seu coração desapareceu, as torres que desabavam em sua direção viraram neblina e os sinos que tocavam pararam.

 Isso para a purificação. Isso para que o ano novo que se aproxima chegue rapidamente. Seu novo e simples recomeço.

 O tempo já foi injetado na pele, o cinza já cobriu todo horizonte, menos o seu. Pois dentro deste universo sem nexo, um pedido único e derradeiro foi realizado. E não há mais espera. Relutância. Suplício. Segregação. Secretos sonhos ilusórios. 

Acabam-se as promessas inoportunas, as mentiras sussurradas, as respostas imploradas, jamais escutadas, aquela valsa que insistia em tocar. 
 .
É tudo cristalinamente puro, recriado, renovado. E os desejos já são outros e apenas a concupiscência é fiel. E esta preenche cada respiração ofegante, cada passo deslizante de uma madrugada finita.

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