quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Pés firmes, alma completa


O sol nasce outra vez. Logo depois, ele se põe. Quantas horas faltam para que os seus pés toquem novamente o infinito? O ar some e os dias se alastram. Nada é o mesmo longe dela. 

Em todos os instantes, seus pensamentos se voltam para ela e a tormenta da distância impregna cada respiração. Pode estar feliz ou triste, em suas terras ou em estrangeiras, nada é igual a cidade do castelo.

De certa forma, sente que sua alma pertence ali. Os pássaros cantam mais felizes, o café é mais quente, os passos mais leves, os sons mais belos, o horizonte resplandece e sabe, está inteira.

Há algo de singular naquele solo. Há algo de especial naquela igreja. Há algo único naquela torre. Cada detalhe que compõe a sua simplicidade e magnitude encantam sua existência.

Como regressar? A pergunta é constante e o aperto no coração também. Não existe madrugada mais infiel do que as distante de sua companhia. Não existe acordar mais cruel, do que aquele sem o seu silêncio. 

Precisa de soluções para retornar ao sagrado lugar, circulado de rios. Que a mãe das águas profira, assim, a sentença positiva que tanto espeta. Que os santos, orixás, deusas e deuses escutem seu clamor e que saiba escolher da melhor maneira.

Um dia, o sol será seu outra vez e terá a sua metade da alma completa. Até lá, luta, sorrisos e um tanto de sofreguidão.

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Depois do sopro...







Ela vai escrever sim sobre suas raízes, sobre as cores que a cercam, sobre dias de luz ou de caos incessante. Ela vai recordar do seu sorriso e proclamar para o destino sobre o reencontro. Mas, quem seria dessa vez? Sem nomear a sua canção de outrora ou a de agora, revela pouco para que possa respirar com mais cautela. Ela que é filha do vento, das águas e dos céus, reclama de guardar segredos cobertos com um véu.

Por que parar agora de prosseguir com o seu despudor, se tudo que sonha é cavalgar em sua direção e ressucitar os versos dessa paixão desmedida? Porque sabe que quando pisar nos solos sagrados, sua alma brilhará lancinante e sem gota alguma de horizonte nefasto. Quando as janelas se abrirem e vislumbrar aquele sol radiante, a sua gargalhada será tão profunda, que nenhuma rima poderá abarcar o que habita seu coração.

No fundo da memória, a música do príncipe galanteador ressoa. Nas suas células, a sobrevivência aos males do retorno, vibram cantantes e fagueiras. Afinal, como poderia ser diferente? Escutou os sinos, os pássaros e viu a praça rosada, com flores que cobriam os pés. Ela viu toda a repetição desconexa do destino, que a esperava de braços abertos e um gole quente de café. Depois, nada inútil fazia mais sentido. A fumaça se acabou, a tristeza e o pranto secaram, ela era inteira ali, coberta pelo toque do seu silêncio.

É de ocupar o seu lugar no mundo que está falando. É sobre nada mais importar do que aquele chão de pedra, gelado e cheio de esverdeado de outras eras. É sobre resgatar cada tempestade perdida, para que possa abraçar vorazmente tudo que lhe pertence. Cada caminhada e brisa gélida serão suas. Ela é dona dessa estrada, que jamais irá abandonar novamente. Por isso que os retratos já estão descobertos, os ponteiros alinhados e a névoa desfeita.

Ruma em direção da jornada que lhe pertence. Flutua em novas escolhas para que ganhe a chance de viver com honra, o que foi escrito para ser conquistado por ela. A Imperatriz há de jorrar em flores os seus versos, construindo passo por passo a alvorada planejada na programação. Suspira e encara o quadro, o plano e o deslocamento. Guarda na aura o sussurro sobre sua luz. Ao cerrar os olhos, enxerga o mapa para o regresso.

Sim, é anunciada mais uma véspera de transformação.

Canto para o fim do mundo


O que acontece com toda essa gente

que dizimada comumente

ainda tem tempo para a guerra?


O que há ainda de sede

inescrupulosa e sagaz

que danifica tudo que o Universo traz

que solidifica as amarras do terror?


É dia sim de agradecer quem já não mais erra,

quem chama pelo invisível e pede

que se alastre por toda a nossa terra

mais do que instantes de horror.  




segunda-feira, 3 de junho de 2024

Jubileu…


Finitude e um céu estrelado. A candência se transforma em um empoeirado desejo de permanência. Os olhos reclamam, transfiguram-se, torna-se outros. A voz suave entoa promessas, que soam como vestígios de um passado recente. Quem seriam? Quem é? Quantas estrelas hão de cair até que os pés se banhem de sal, outra vez.

Em um deja vu constante, ela senta, espera e frui o filme da sua vida. Ouroboros. Fim e início. Início e fim. Porque não tão somente de castelos, Imperatrizes e cânticos se constroem horizontes falidos, decrescentes e em constante escassez. Também existe o fruto de sua terra que, emputrecido, decompõe-se em suas mãos, enquanto o dia anoitece e as lágrimas escorrem desesperadas.

Há sentido ainda para alguma canção? Há brilho na aura que resista as chacoalhadas da vida? Há amor incondicional? Há admiração daquelas que são disponíveis? Existe força para compreender que somente as cantigas com dono reforçaram sua alma ensandecida? Por que parar? Por que esperar? Por que ouvir badalas que rompem no peito e se tornam náusea, quando a resposta está bem na sua frente?

As perguntas não têm razão palpável, tampouco reluzem, em véspera de caos. Porque quando a décima nota da sonata ressoar, ela saberá que o pranto foi em vão e todas as certezas estarão confirmadas. Até lá, segue no aguardo de uma nova frase de sentido inefável, proferida no vazio que há em seu peito em chamas. Até a próxima procissão, até a próxima promessa, até a próxima encarnação…

sexta-feira, 10 de maio de 2024

Aquela outra inspiração...

É o mar de Bragança que lhe encanta. Com céus iluminados e a riqueza de sua rigidez sinuosa. É a lágrima salgada em fel, que lhe apavora em véspera de despudor e descaso, por todas as quimeras que hão de vir e por todas as sonatas que não hão de tocar. Em seu quequeísmo pueril, joga-se no abismo da saudade, impunha a sua dor em pleno espasmo, sacrifica a sanidade por uma mera comunicação. E eis que no dia da paixão, saberá se libertar de qualquer amarra do outrora retumbante.

Ela que é filha do vento e dona dos passos aguados dos rios velozes de sua tão amada terra, cumpre os sincretismos calcados no chão de mármore daquela mansão, renega certezas, determinismos e absolutismos, volta para o ponto inicial e os sinos passam a badalar incessantes. Quase zonza com o alarmante som de seu coração, escreve confusa, cheia de emoção, sobre ela, ele e as outras.





Porque a primeira página sempre esteve faltando e já não se importa mais com essa equação. O que é relevante é o agora, solitário, indomável e flutuante. O ontem já é pó, com as manchas cinzentas da verdade. O amanhã é névoa e puro descaso. O hoje não. Este é menino que joga com as flores, brilhantes na alvorada do perdão, do silêncio, das tristezas e alegrias, daquele final derradeiro do dia, de todo consumo de sofreguidão. Ao seu lado sim, agora sente, cada cílio dos olhos vibrarem, cada centímetro da pálpebra a tremer, cada gota de sangue que corre em suas veias.

Ao cerrar os olhos relembra da ceia, dos presentes e do oceano que batia em sua porta. Aqueles dos rostos semelhantes ao seu foram imergindo e ficando apenas na memória seleta de um tempo já morto nesta espaço lógico do Universo. Todavia, os ponteiros do relógio se transfiguram todos os dias e aquele encontro segue em repetição. Quando, então, virou a menina da varanda? Antes ou depois de sua partida? Cronos lhe disse a verdade e foi sincero em suas ações? Ou o fim já estava dado, antes mesmo que pudesse tentar?

Pois, neste instante calorento e pálido, roga aos céus por uma distração, porque a mera recordação de suas impossibilidades lhe trancam a garganta vorazmente. Foste ela enfiada em júbilo infantil ou daquelas que lhe trouxeram apenas perturbação, é chegada a marca certeira dos ponteiros, na qual a água inunda os pensamentos e a salva do desgosto da desistência. Pois fica, até onde eles e elas quiserem, até o espaço recorrente dos horários acertados, dos planos e programações irremediáveis, de um ser, que domina e envaidece apenas pelo encontro de uma canção. 

sexta-feira, 12 de abril de 2024

A dona do Olimpo



O gosto da sua boca é como um paraíso celeste, que casa com seu desejo de visitar novos céus. Seus olhos fixos nos dela fazem a pulsação acelerar e achar novas formas de sanar desejos secretos do corpo e do coração. Quando as suas peles se encontram, é como se suas almas também se encontrassem.

É uma dança em um ritmo compassado, na qual as velocidades são cambiadas e, por isso, o tempo é outro quando está ao seu lado. Enquanto narra seus pensamentos, todo horizonte dentro da Imperatriz resplandece e tudo é festa, é sopro leve, em dias coloridos que já foram cinzas. 

Seu nome é melódico, seu sorriso cativa, sua voz amolece cada fibra que habita sua aura. Ela é uma nova canção, mas é mais do que isso, porque não quer ser. A sua despretensão pretensiosa é um charme inebriante, que faz o mundo se calar e somente o que ela diz importar. 

Cada segundo de sua respiração parece uma dádiva. A existência dela é como um riacho, que banha a alvorada e o silêncio, que transforma e renova, que é calmo, porém jamais irá se arrefecer. E todo o decorrer sereno de suas águas pode virar, ressignificando caminhos e intensidades.

Aí, ela passa a ser correnteza brava, que derruba o que vier pela frente. Esta é a cantiga que ressoa em seus dias agora. E sorri, enquanto escreve em seu diário de confissões. Ainda é cedo, talvez, para um codinome para esta mulher que tem preenchido seus dias de alegria. Talvez.

No entanto, pouco importa como a chamará. O que vale dizer nesta escrita confusa é que ela existe e, porque ela existe, tudo que habita o Tempo e o Espaço é maior, é melhor e mais sincero.

Então, que possa continuar desbravando esse afluente cheio de mistérios a serem desvendados. Então, que seus lábios se encontrem e a mágica continue a acontecer. Então, que viva inteiramente cada trecho desta partitura, que segue orgânica, até o presente momento.

Então, que se encante com cada gesto, com cada nova memória que ganha espaço no seu caminhar. Porque ela é um pouco de tudo que já conheceu e totalmente distinta do que já experienciou. Assim, ela já inicia uma espécie de morada no seu jardim. 

Porque ela é uma correnteza de chances, do que ainda está por vir e do que já foi, em frenesi absoluto, em tons vívidos e tão profundos, que já se sente um pouco sua a cada aurora flutuante. Pois ela tem sim algo de divino em sua existência…Ainda que seja tão humana, tão palpável.

É, ela um manancial de adjetivos tão profundos quanto os seus discursos sobre a vida. Do outro lado, a Imperatriz que a escuta, tão concentrada em seus argumentos, sorri e pensa assertiva: é, ela é uma Olimpiana, só pode ser…

sábado, 6 de abril de 2024

As palavras da Imperatriz


Como seguir, quando o coração está em brasa e, logo em breve, virará pó? Como saber o que espera o horizonte seguinte, se sente uma tontura cambaleante, quando seu nome chega dilacerando a mente? O que esperar de um amor ilusório, que foi construído de más intenções ou confusões de propósito? 

É impossível saber quantos céus cabem neste desabamento compulsivo de emoções, que deixam apenas saudade, medo, angústia e falta de zelo. Cravando a espada final em sua alma despedaçada, ela foi também Imperatriz, como aquela que tanto a amava. 

Mas foi no despudor do verso sinceramente doloroso, que deixou que fosse para nunca mais voltar. As suas vestes cintilantes, na verdade eram fantasia dominante, daquela que controla os seus somente por diversão absolutamente sua. 

Não ouviu, tão distraída, os pássaros soprarem a solução, naquele outono, porque se agarrou na impressão de que as suas frases soltas formavam um sentido. Ela, tão sua, tão fiel, acreditou em cada cartão, em cada sentença escrita em pedaços de papel e abandonou a sanidade, para decifrar mitos, que na verdade eram mentiras. Nunca houve sintonia ou conexão.

O que aconteceu foi um tombo, uma virada de chave, um rompante impactante, de um devaneio sufocante, de um verão que jamais acabará. Por isso, ele, o outono, não mais regressará. Sem jantares, olhares, flores, colares e segredos revelados, os dias desse sentimento estão contados, porque há de arrancá-los do seu peito.

Com coragem em prontidão, lançará mão de todas as forças que habitam o seu corpo, e caminhará de volta por entre os jardins que jamais deveria ter deixado de zelar. Seu caminho é seu e jamais pensou que a sacristã do controle, diria que ela mesma não poderia compartilhar a verdade do que são seus dias. 

Porque se quis tirar até mesmo a metáfora do girassol dela, é porque ela mesma não é o girassol que pensara ser. Ela era miragem. Era pesadelo, trajando vestes de sonho. Agora o infinito se acaba e já não pode ser mais poesia. Todavia, será, na véspera do novo dia, a Sacerdotisa mais iluminada do resplandecer da nova aurora reluzente.