quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Outro rumo da alvorada


Ela, que faz aflorar sentimentos loucos, trancafiados no findo do peito. Ela, que com despudor revela suas chagas sem temor. Ela, que não a enxergar senão nas falhas, em um bolo de gente qualquer, em uma sonata quebrada dos que perdem a sanidade muito cedo.

Ela sacode o seu coração sangrando em uma bandeja. Ela despreza tudo que representa, que conhece os atalhos para torturar sua alma, proteger sua sina, elevar seus pecados. Foi ela que ficou do outro lado da ponte e gargalhou porque o pulo jamais seria suficiente.

Mas, foi ela que resgatou suas asas no dia das trevas, no dia do pranto maior, quando quase se perdeu totalmente e para todo sempre. Foi ela que lhe deu luz e um destino que nem sabe que deu. Foi ela que a fez trocar de pele e compreender as sistemáticas de um sistema falho.

Agora, a pune. Lhe esquece. Não se importa. Não se recorda. Pois a outra sim. Porque houve uma aurora resplandescente, na qual a mirada era longa e as vozes ecoavam na madrugada. Isso não se tira. Isso não se termina. Isso se transforma e agora há de saber como lidar com o salto para a alvorada.

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Pés firmes, alma completa


O sol nasce outra vez. Logo depois, ele se põe. Quantas horas faltam para que os seus pés toquem novamente o infinito? O ar some e os dias se alastram. Nada é o mesmo longe dela. 

Em todos os instantes, seus pensamentos se voltam para ela e a tormenta da distância impregna cada respiração. Pode estar feliz ou triste, em suas terras ou em estrangeiras, nada é igual a cidade do castelo.

De certa forma, sente que sua alma pertence ali. Os pássaros cantam mais felizes, o café é mais quente, os passos mais leves, os sons mais belos, o horizonte resplandece e sabe, está inteira.

Há algo de singular naquele solo. Há algo de especial naquela igreja. Há algo único naquela torre. Cada detalhe que compõe a sua simplicidade e magnitude encantam sua existência.

Como regressar? A pergunta é constante e o aperto no coração também. Não existe madrugada mais infiel do que as distante de sua companhia. Não existe acordar mais cruel, do que aquele sem o seu silêncio. 

Precisa de soluções para retornar ao sagrado lugar, circulado de rios. Que a mãe das águas profira, assim, a sentença positiva que tanto espeta. Que os santos, orixás, deusas e deuses escutem seu clamor e que saiba escolher da melhor maneira.

Um dia, o sol será seu outra vez e terá a sua metade da alma completa. Até lá, luta, sorrisos e um tanto de sofreguidão.