Nos dias transformados em pó, o que resta são as amarguras
cinzentas de um passado tardio e a vontade de ser o que outrora já fora
apagado. Era para regressar e entoar canções que profanassem o passado. Era
para ser uma jornada equilibrada e não mais banhada de fel. Era tanto que já
não poderia negar o sossego de não ser mais. Era pouco, por isso lhe foram
deixando em pedaços, enquanto gargalhavam no golpe final.
A
madrugada já se foi, repete. Precisa acreditar que não existe mais ventania que
cure um sorriso perdido. Encontrou as sobras do que fora, sim. Encontrou o
resto de gente que ali habitava. Foi porque cada um arrancou um pedaço de sua
existência e nada ficou. Foi porque dilaceraram suas verdades, corromperam seu
coração, silenciaram a sua alma.
Quando
chegou, não tinha mais como respirar. Não tem como ressuscitar os olhos de
faíscas cálidas que iluminava os céus cheios de luzes. Sim, um dia foi cor e
luminosidade. Quando foi isto mesmo? Na varanda, é bem verdade, deixou os
últimos suspiros de resistência. Olha pro futuro com um desgosto estampado na
cara e a certeza que nada de bom lhe reserva. Com o sabor do que um dia lhe
pertenceu. Com a aura estilhaçada. Foi-se.