domingo, 16 de março de 2014

Sobre uma possível lua na face

 É um pouco de cinza. É o fim da madrugada. Quando o tédio habita a sua estrada. Enquanto para uns aquilo é festa. Enquanto para uns o mundo gira no júbilo encharcado de água salgada... 

Porém, seu oceano é a ventania que transborda de sua aura. 

E a fumaça se afasta para que venham as flores sepulcrais. E o vento se tranca numa torre ainda mais alta que a de outrora. Sim. A cada passo diminui a distância entre os pés e o precipício. Agora, sem o néctar que espalha a concupiscência no ar, sem o veneno celestial, acolhedor, perturbador, sensato, violento, santificado.

O tempo gira. O ciclo se refaz. Os olhares não se encontram. A imaginação corre leve, solta, pura, cristalinamente adocicada. A inspiração amordaçada corta os véus impuros do pudor. Agora não mais acorrentado voa em direção do tão conhecido poço. 

Deseja pular. Com todas as forças prefere o abismo. Sim, os olhares não se encontram. Sim, o fel escorre nas ondas douradas de uma divindade disfarçada. Sim, não pula, pois as rochas, fincadas firmemente na terra, prendem seus pés.

Agora já não sabe se é terra ou ventania. Abismo ou calmaria. Já não sabe se há realmente uma dúvida e qual seria ela afinal. E escreve... sem fumaça...sem tanta inspiração...mas sem perder de vista o abismo que tem como ponto final a varanda em noite de lua cheia.



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