Ela era apenas sonho
numa multidão de olhares. Enquanto sua existência se desvanecia diante da
presença de tantas outras coisas, cantava para segurar as emoções. Se ao menos
soubesse se aquilo era real ou não, poderia afirmar com toda certeza que seus
dias deveriam ter se extinguindo faz tempo. Ou não.
Ela era feita da felicidade e
dos gestos desmedidos. Enquanto a outra se afogava em melancolia. Ela era caos
em pura festa. Enquanto a outra morria em solidão. Ela era toda a reunião de
cânticos melódicos, enquanto a outra era apenas disco arranhado. Sabe aquele
clichê profanado? Pois então, o era sem saber.
E nessa dança eterna de
fuga insensata, respirou e viu que não havia uma saída concreta. Nesse ritmo
insano preferiu parar para que não se queimasse novamente porque sua pele já
era estampada de vexames marcados pelo outrora despudorado. Esse que gargalha
enquanto ela verte uma lágrima de dor.
Sabe aquelas escritas
guardadas? Sabe aquelas incertezas da juventude? Sabe aquilo que um dia foi tão
profundo que agora parece risível? Sim, esse amontoado de entulho sepultado.
Esse que já não é digno de existir. Esse tudo que parece imóvel e em vão. Esse
que a deixa sem avisar. Esse ser insensato que avisa que hora de parar
imediatamente e só suspirar e entregar de uma só vez a derrota.
Claro que é mais fácil. Porém, o que fazer agora que se sente tão suscetível ao erro? O que fazer
quando as fichas foram lançadas e apodrecem no chão? Quando os olhos se
fecharam e apenas as mãos se tocam e já é tempo de renunciar.
É sim. E é doloroso
sim. E é inconcebível, sim. E nunca mais repetirá seu nome ao não ser que
precise entoar versos fraternais. Ou seria apenas drama da madrugada que confunde
as certezas? Na dúvida permanece em silêncio. Na dúvida roga para que esteja
errada. Na dúvida, cambaleia ébria nas torres que um dia desejou queimar.
Se segura, pois é hora
de abrir os olhos. Não mais enxergar o paraíso que um dia lhe pareceu tão
jubiloso. E agora sabe. Os dias são feitos de fel e o final próximo de chegar.