Pensa em se despedir. Pensa em
correr em direção do abismo. Pensa em entregar-se para o vento e todas as suas
danações. Pensa. Demais.
A cabeça arde. Lateja. Explode a
aura em cinzas. Recorda o gosto salgado da salvação. O cotidiano é preenchido
de adeus. Mais lágrimas. Mais confusões. Mais incertezas. Mais um pouco de
dúvida para a completar a devastação dos dias. Uma súplica. Ao destino. Ao
Tempo. Aos mares quentes e azuis dos olhos. Daqueles únicos olhos. Mortos.
Sepulta as dores. Enterra as
verdades. Sucumbe. Cobre-se com as flores sufocantes. Permanece na sombra da
promessa. Das palavras. Das mágoas. Das cores falecidas.
Pálida corrente translúcida. Torres.
Chaves. Sangue que verte da pele. Pulsante coloração que desfaz rancores. Retalhos
de memórias flutuantes. Encontros nefastos. Pedidos impossíveis. Rosto coberto
pela névoa de uma aurora insistente. Sim. Há uma bruma persistente.
Determinada. Cálida.
Mais flores para cobrir os rostos
silenciados. Mais desespero. Mais culpa. E o desespero triunfa. E o silêncio. E os sinos.
Badalam todos os sinos. Surdos, os sinos. Pois eles afetam as madrugadas
sinceras, mas não escutam seu efeito. E os pecados. Os sacrilégios. As inúmeras
contas. As horas relutantes. As ilusões de júbilo eterno. As manhãs sinceras.
Um dia. As vozes. O canto. A leve
brisa que arranca os temores. A distância. Uma escolha. Uma devoção. E tudo é
para sempre. Ou para nunca mais. E seu sorriso desmanchou quando a terra cobriu
seu derradeiro pedido. Seu singelo e inaudível pedido.
A correnteza levou suas últimas
emoções e cristalizou um único semblante. Vazio. Frio. E seu último clamor foi
calado com uma última flor. Jogada. Guardada para a eternidade. E corroeram-se
todos os pedaços finais. Enlameados. E entregou-se à terra, grudada em sua
carne. Entregou-se até o derradeiro centímetro de pele. Até a chegada do próximo, que lhe
fará companhia. Até.