Queria mesmo que o vento a pertencesse hoje. Queria mesmo se
afogar na fumaça venenosa e incessante. Queimam-se os lírios e restam-se apenas
vestígios do anoitecer. Pois, quando o poder de sua alma foi entregue, correu em
direção ao som mais profano. Retida em seus fios dourados, olhou para trás e
resolveu seguir adiante.
Agora paga pela vontade de se encaixar em
um mundo de papel, em seu próprio castelo de areia derretido. E, antes de tudo,
o mundo pára outra vez e nada mais faz sentido. A ventania escapa, junto com as
verdades que lhes são ditas. São apenas chuvas de impropérios e pedidos falsos,
comungando com a concupiscência latente que habita sua carne tola.
Sim. Cansou de todas as mazelas provocadas
por acreditar na próxima palavra falsa, coberta de escárnio, dúvida,
sobressalto. Deseja fugir e emaranhar-se nas ondas dos mares petrificados. Quer
de volta o vento que tanto estima. Quer tempestade rubra e sem dor, madrugadas
ensandecidas, agora já adormecidas pelo poder da enfermidade.
A escrita imprime-se no tempo. Os versos
são jogados para o destino e, tudo agora é apenas o hoje, com respingos do
amanhã. E que se calem todas as sentenças, pois apenas na sua alma retorcida de
dor pelo passado é que as reais intenções são conhecidas. O mundo mudou, as
flores já brotaram e os lírios incendiados permanecem pálidos e guardados.
Agora, basta abrir os olhos. Agora basta deixar que as luzes ressoem pelo o
espaço. Esverdeadas, sempre esverdeadas.