quinta-feira, 1 de março de 2012

Cinza

 
 E segue outros rumos. As fronteiras escapam entre as névoas de um sonho inalcançável. Vem das pragas das promessas. Vem do júbilo incerto. Vem da alma profanando escárnios. Outrora a paz reinava sorrateira. Em vão o caos torna-se segregação. Partida. Repartida. Compartilhada. Imersa entre os véus das possíveis verdades. Corre em brumas silenciadas numa nova súplica restante.
  Sim. Fala das palavras jogadas ao vento sagrado. Corrompidas pelo falso significado. São nas chamas que encontra o repouso fiel. Em meio sujo e podre. Em neblina cinza. Em cores intensas. Em jardins cobertos de lama. Em nada. Repousado em cálida lança. Destrói o cálice. Perfura o indescritível. Secreto. Afinal o silêncio recompensa a alma. E a espera da derrota de uma batalha jamais iniciada.
  Raios. Noites. Luzes. Ensandecida por aquela madrugada. As coleções. As mínimas palavras. Que recortadas traziam um sentido inexistente. A verdade selada. Escondida. Trancafiada. Em seu peito o amor rima descompassado. Enquanto os olhos brilham pela falsa sentença. Guardado está. Aquele que sepulta as horas e desafia seus conhecimentos. Nunca alcançado. Nem mesmo por aquela que rondou os pensamentos. Entregadora da loucura. Da infidelidade. Da falta de cumplicidade. Entre lágrimas e risos conhecia a real trajetória de um segredo enterrado em si.
   A vontade. A necessidade de escapar do improvável. A distraída resolução engrandecida por tolos mascarados. Na verdade houve sim. A certeza cega atrapalha o cavalgar dos impulsos tardios. O amanhecer sem sorrisos delatava o erro recorrente. O regresso vinha apenas da falta de respostas. Depois o novo fascínio, que escapou enquanto olhava para o passado reconstruído. Agora nega.
  Agora sabe. Não há rumo nem destino que leve a revelação da secreta chave amaldiçoada. É somente na desesperada tentativa que se alcança a noite perdida. Por isso, será naquela imensidão que buscará o conforto conflitante. Que venham. Pois já é tarde para as horas voltarem. Já existiu a descoberta da falta. E o espaço resta. Sempre será. Um horizonte muito além do impossível.

*Para a luz que se apagou

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