sábado, 12 de novembro de 2016

Kaiadas



 É um fim de festa em uma tarde cinzenta. É ver o dia amanhecer como quem se apunhala eternamente. É um amargurar-se descontente. É um ser de outrora correndo leve em tom magenta. É uma noite que corrói. Aquilo que quase foi dito. Os sopros do silêncio maldito e a madrugada que insiste em lembrar o esquecido. É um tormento que por si só destrói.

Se ao menos pudesse tocar em seu rosto enrubescido. Se ao menos pudesse alcançar seu pedestal. Se ao menos pudesse selar um último ou primeiro beijo com um punhal. Contudo, sem fel, apenas um horizonte quase perdido. Assim, coberta de luzes e lamentação, teme o mal da tentação. Entre o caos e a melancolia, se amedronta noite e dia. Se deixa apodrecer na solidão. E num lamentar de sofreguidão, finaliza seus pedidos. 

É a velha rima sem rimar. É a antiga canção disfarçada de outra. É a dor de um sorriso para outrem. É acorrentar-se na imensidão de uma incerteza. Acabar-se. Delirando no deleite de seu olhar, sentencia o esperar de mais um pôr-do-sol em sua lembrança. Dilacera e deixa dilacerar. Perfura e deixa a razão abandonar. Sentencia seu caminho. Cumpre o pacto com os ciclos do destino. Encharca-se de veneno. Música, imagem, dor pura e lamento. Uma eterna memória feita em sofrimento. Um despertar para uma nova alvorada.

Um apoquentar sem relatar. Apenas mágoa das escolhas perdidas. Apenas passos tortuosos para o mesmo inevitável abismo. Depois vem a quebra e o recomeço, sem mais procurar encaixar, cambaleia até o renunciar de seu arrivismo, tonta ao recordar das partidas.  Depois, segue perdida em tropeços, gélida, desfalecendo ao buscar o último suspiro apaixonado.


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