sábado, 15 de outubro de 2016

Nomes

 Não sabe. Não consegue. Não enxerga. É tudo muito turvo quando a madrugada incendeia e resta apenas um gosto amargo. Tenta medir palavras, controlar vícios. Busca um tanto de lucidez para analisar os últimos tempos. Suspira. Se perde nas questões infinitas. Ressuscita lembranças e temores, dilacera relações. 

 Ainda que tentasse, jamais seria capaz de encontrar a doçura eterna, leves palavras. Sua boca é feita de fel que arde na alma. Seus dias são danações sinceras, porém cruéis. Suas lágrimas, nunca finge, porém, marcam o reinício do ciclo. Este que insiste em petrificar sua aura. Este que condena sua existência. Gostaria de puder contar uma história fixa. Contudo, não é capaz. Não consegue. É impossível. 

 Entre cortes de sentenças mal ditas, procura explicar suas ações. Aí que está o engano. Não há ouvintes. Não há justificativa. Não há explicação. Somente angústia. Somente a fuga do júbilo e a solidão. O engano. A impureza dos atos. As incertezas. As paixões perdidas e apagadas. Não há salvação. Não há coração que possa limpar a jornada tão tortuosa. Como encontrar um horizonte há tanto tempo perdido? Como respirar suavemente quando sua própria existência sempre foi marcada pela dúvida.

 Se ao menos pudesse.... Se... 

 Mas não. É preciso reconstruir seus passos. O cotidiano relembra. O tempo continua a correr. As vozes escapam de suas mãos. Apenas resta o sacrifício. O pranto. O impossível. E a fumaça. E mais danação. E a sagrada verdade presa em seu peito. Aquela que quer gritar e nem sabe por onde. Aquele que queima até o último suspiro. Aquela que dói. Machuca. Acalenta, porém não salva. Porque é por alguns instantes. É tudo tão efêmero que nem pode tocar. Antes desfalece. Antes recorda dos pecados. Antes lembra dos erros. Do que perdeu para respirar. Do que nunca pode dizer. Do que nunca será capaz de alcançar. 

 E no medo, na dúvida, no esquecimento, deita. Permanece e se instala. Se joga do primeiro abismo que encontra. O primeiro toque de luz singelo. A primeira verdade profana. A primeira mágoa endossada. Se joga até que se afogue. Pula até que seja impedida. Pula infinitamente. Até. Para todo sempre. Até nunca mais. Até que seja. Até que se finde. Até que pare. Até.


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