domingo, 24 de julho de 2016

Neuer Weg

Seus olhos. Eles pairavam no abismo. Na solidão. Na petrificação dos sentimentos. Na perda da memória do que foi. Criando novos laços. Deixando o outrora preenchido de névoa. 

Caos. Por toda parte. Recolhe as lágrimas ainda caídas pelo caminho. Grita por dentro em busca de respostas inaudíveis. Silencia as marcas profundas. Aquelas cravadas na pele com o ferro ardente da injustiça.

Os sortilégios tornam-se apenas uma breve recordação. Agora eles já não lhe podem atingir. Um uivo distante de dor e já sabe. Todas as culpas cairão por terra no instante em que abrir mais uma vez o poço escondido. Se foi. Para morar na madrugada. Para se perder do horizonte. Ao fitar o caminho percorrido já não compreende as pisadas manchadas de veneno dos deuses.

Se ao menos pudesse resgatar o fel do jardim abandonado. Se ao menos pudesse respirar outra vez. Aquele ar de danação. Aquela aurora retumbante. Aquela ingênua sensação de libertação. Se ao menos pudesse tocar em sua face novamente e enxergar o que antes vira. Ser reencontro. Ser lembrança. Ser fumaça no tempo e no templo das verdades.

Mas a partida anunciada se fez presente. Sua alma agora pertence aos bons. Aos que quebram as vidraças de tortura. Aos que proferem palavras cálidas. Aos que protegem. Aos que lutam e quebram as corretes enferrujadas. Aos que sobem na última torre da sagrada prisão e fazem desabar qualquer questionamento de regresso ao paraíso enganoso.

Se suas veias rasgam e desfalece para abrir os braços para o novo, nada mais justo que celebrá-lo. Ainda assim, uma parte de sua energia sucumbe. Sucumbe na memória. Nas feridas. Na morte de outro ser que pulou da ponte e já quase não mais existe. Não há retorno. Não há salvação para a menina da varada. Afinal, nem mesmo ela existe mais. A varanda. Não existe. Não existe. Não existe. Repete. Porque sabe. Porque agora é outra. Porque agora queimou todos os livros. Queimou todas as pontes que a trariam de volta. 

As escolhas selam os pactos. Apaga-se a bifurcação. Cambaleante, assume sua única e derradeira face. A única. E última. Face. Destrói as cinzas. Suspira. Já é hora da nova realidade aflorar. E entrega-se. Se despede. E vai.


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