domingo, 15 de novembro de 2015

Torcer

Foi. Ainda na primavera. A cautela escapou das suas mãos. Seu coração descompassado achou que seria certo seguir em frente. Seu coração tolo e embriagado guiou seus passos para o abismo. 

O que fez mesmo com as chaves guardadas? Por acaso não compreendeu que a solidão ainda é o melhor remédio para se proteger das impulsividades? Ainda não entendeu que olhos se abrem no amanhecer e a canção já é outra?

Não existe mais varanda alguma que possa guardar seus segredos. Não existem mais jardins que deixem seguros seus devaneios. 

Estava escondida. Em sua torre de cristal. Nas doces montanhas. No silêncio. Nas fantasias. Nas ilusões. 

O perigo mesmo, este que se apresenta em cálices coloridos, está na entrega. Ou nas vozes. Ou nos dias. Ou na espontaneidade. Ou em imaginar que há controle total das ações. 

As palavras são tolas. São em vão. São tudo. É uma escrita para o futuro. Ou não. São muitas perguntas. Muitas questões. Olhares. Pedidos. Promessas. Tudo é tão turvo que já nem consegue mais respirar. Ou ouvir os pássaros. Eles pararam, não é mesmo? Novamente.

Talvez eles saibam a hora de parar. Até eles se entregaram para um mundo sem som, sem cor. Enquanto aquela que ouvia suas músicas grita para o mundo vil suas fragilidades. Seus descontroles. Suas necessidades. E já é não é mais menina. Faz tempo. Aliás, faz bastante tempo. Agora é madrugada cinzenta. É sofreguidão sem propósito. É esse mar que se mistura na tempestade de um sorriso perdido. 

Afinal, quantos clamores precisará escutar para parar de vez? De uma vez só. Completamente. Ou será que os ciclos continuarão se repetindo? Ou será que as dúvidas somente calam quando se dá o último suspiro? Ou será que é melhor pular? Pular de vez. Sem muito pensar. Sem questionar coisa alguma. De alguma forma seria o ideal. Talvez. Assim seria mais fácil. Seria menos doloroso. Egoísta, porém, menos doloroso. 

Essa intensidade juvenil compromete os rumos da jornada. As narrações se repetem. Entre passado, presente e futuro. Entre tempo e destino. Entre decisões concretas e insanas. Entre dizer sim ou sair correndo em direção da noite mais fria de todas. Entre aceitar e desistir. Entre ser inteira e ser pela metade. 

Completa ou não, o melhor mesmo é correr em disparada ao horizonte coberto de resposta singelas. Ou parar tudo de uma vez. Se calar. Ser apenas silêncio, música e solidão. Abandono total da dor. Sem pestanejar. Sem piscar. Sem suspiros. Sem emoções. Sem medos. Sem dúvidas. Sem descobertas. Sem nada. Apenas consigo. E a noite. E a fumaça. E as músicas.

Talvez. E só está começando.


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