sexta-feira, 3 de julho de 2015

Ressuscitar

 Suplício. Um pouco de martírio. Tédio. Por que não? A noite é sempre mais longa quando falta fumaça para fazer com que as palavras tenham sentido. Os olhos deveriam estar fechados, porém olha para faces do passado e relembra de suas existências. Ainda existem? Respiram, não é? Parece loucura, mas na rotina insana alguns rostos se dissolvem numa valsa tortuosa e lancinante.

Engraçado. Parece que o efeito de pausa preencheu essas vidas. São as mesmas palavras. Os mesmos semblantes. Os mesmos lugares. Os mesmos discursos. Nada novo. Jamais. É a repetição das tradições que encanta essa gente pacata e que provoca náusea e preguiça de continuar enxergando naqueles seres passionais, impulsivos e ávidos por novidade.


Contudo, o próximo nascer do sol sempre chega. Este levará, junto com o vento, as imagens mais recentes, não muito distintas das do passado, para longe da memória. E lá, num abismo infinito, permanecerão. Talvez seja exagero afirmar que coisa nenhuma tenha se modificado. Talvez. Porém é quase impossível de acreditar que algo mudou. 



A sinfonia se repete em seus ouvidos. Uma glória. Uma dádiva. O corpo vibra nas notas certas. Depois vem a recordação de que suas palavras também não passaram por grandes transformações. Ou passaram? Há um desejo maior na objetividade da escrita. E de voar. E de pular os dias até que possa encontrar novamente o prazer incomensurável da fumaça agora não permitida.

É necessária a brevidade. Uma pitada de silêncio. Gotas generosas de paciência. Controle da respiração. Por fim, um riso longo e farto, uma despedida e uma distância, coberta de educadas desculpas ou de um não depois do sim. 

Se houvesse um pedido esse seria a mudança. A retirada das máscaras do cotidiano. Uma fuga inesperada. Um conjunto de palavras nunca ouvidas. Uma imagem reveladora. Outras cores, olhares, sorrisos, gestos, gostos. 


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