segunda-feira, 14 de abril de 2014

Sobre os Muros Estilhaçados

 Subiu nas direção do infinito. Alcançou todas as mediadas necessárias para que nunca mais machucasse sua pele de menina. Certificou-se que todos os véus cobrissem sua face e que todos os cantos fossem mais silenciosos. Quando o abismo já parecia distante, lhe ofereceram o maior salto de todos. O fim era um precipício saboroso, com gosto de sal vindos dos mares. Porém, já não sabia mais como saltar de tão longe. O corpo já havia conquistado o equilíbrio e se mantinha em pé quase sempre.

 Rasgou a couraça. Escalou a ponte para o abismo. Entre escorregões e tropeços finalmente chegou ao seu topo. A ventania, que segurava seus braços, cessou. Olhou para o horizonte e segurou todo o impulso de pular. Como poderia fazê-lo se passou tanto tempo treinando o contrário? Depois viu a fenda, que separava o abismo da próxima ponte, ir se fechando. Rapidamente. Agora estava mais que na hora de entregar-se ao precipício.

 A vontade era sua dona, mas a mente latejava, dizendo o contrário. Não se entregou. Segurou-se com toda força nas rochas que estavam ao seu redor. Nenhum grão de areia ou pedra flamejante atingiu sua rubra face. Por fim, caiu em direção oposta ao seu objetivo. Flutuou rumo ao caminho contrário. De longe, avistou a placa com uma escrita turva. Lá, do outro lado, viu que ali, local no qual estava há pouco tempo, se encontrava um jardim florido. Lá estava a luz esverdeada que perdeu num outrora bem distante.

 A fenda se fechou. Em seguida, a dúvida restou. Será que esperava uma nova abertura ou voltava para os braços do vento, para ver outras tempestades? Talvez perdesse a candente chama de cor verde. Talvez jamais se abrisse aquele portal de novo.  Talvez.

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