quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O som

Então veio o som depois do sim. Veio o som da princesa inesperada. Veio a escuridão no meio da festa. Vieram as injúrias inacabadas. As inverdades petrificadas. Os sonhos desvanecidos. Por fim, vieram mais devaneios conscientes presos em sua despudorada mente coberta pelas chamas do seu vendaval candente de certezas. 

Um dia foi e já não mais é. Um dia quis o que agora não mais quer. Enfim veio a chama necessária para recriar mundos ainda não habitados. Há apenas uma vontade. A da escrita tola que mora em seus delírios recorrentes. 

Então veio a lágrima cobrir a face já preenchida pela chuva que caia no rosto gélido e um coração sangrento que lutava contra a correnteza. O vento volta cheio de impunidade. Sim. Até a ventania vem cobrar a sua parte. Pois escolheu a verdade e queimou-se com a mentira.

O silêncio se acaba e transforma-se em grito de fim de tarde. O reluzir da espada brilha em seus olhos transfigurados. As horas dilaceram os pedidos e a fumaça preenche novamente sua alma. O tempo e a solidão fazem as pazes. As angústias cobrem o peito alimentado pelos revoltos mares afogados no pranto da madrugada incendiada.

Não deseja mais correr em direção do abismo e sim evitá-lo. Junta todas as forças entregues pela ventania. Apaga os espasmos de rancor e dúvida. Sepulta abismos. Deleta o abandono. Sofre e deseja o melhor. 

Sorri junto com os suspiros apaixonados, estes agora ainda mais inflamados. As palavras e as sentenças. Os segredos mais sagrados. A face rubra sutilmente transformada em pecado. O fim do começo para que haja espaço para o recomeço. 

As melodias destruídas uma a uma, num rodopio alucinante, rasgam qualquer corrente ainda presente, porém despercebida. É o caos. É a mágoa. É um pouco de dor para que venham as gargalhadas. É a dúvida se a inspiração falhará. É tudo aquilo trancafiado por uma chave que desconhece o código para que finalmente possa habitar seu mundo dos sonhos outra vez. É a respiração que volta a ser como sempre foi.

Pois é no poço da solidão que a magia se faz presente. Pois já estava na hora de retornar para a realidade que arde e queima a face. Pois tudo que um dia começou alguma hora acaba ou muda ou já não pertence aos novos dias que virão. Afinal, o horizonte precisa ser alcançado, juntamente com o júbilo de ter o silêncio presente eternamente. Até que venham as lágrimas recorrentes. 

Mais suspiros e um pouco de festa. Mais suspiros e um pouco das palavras que tanto esperou ler. Mais e mais, até descobrir qual o melhor caminho para a sua estrada.

O conhecimento. A paixão. Os compromissos. Um pouco de tudo e mais festas. E as horas petrificadas que se escorrem e se perdem no infinito contar dos minutos. 

São os segundos finais que valem a pena. São as declarações repletas de sinceridade. São os engasgos expostos. São os olhos que juram junto com os segredos sagrados. É um pouco de tudo e de nada. É a correnteza que afoga sem pressa. São as mãos entrelaçadas. Sim. Por mais que digam não. São as juras e pactos que sustentam aquilo que disse e sempre dirá.

E que arda de uma vez só. E que venham todas as consequências. E que saiba que tudo ainda é o som depois do sim.


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