domingo, 14 de abril de 2013

Polisipo


 É preciso escrever. Até que a última gota de dúvida escorra da alma. Quando foi que o engano da madrugada foi mais forte que as escolhas? Quando a memória destruiu suas últimas forças para lutar contra a maior vontade que habita sua existência. Não adianta mais, ou a porta se fecha ou nunca escapará do mesmo abismo em que insiste em pular.

Coberta pelo vento que já salvou sua pele, preenchida pela fumaça cinzenta, protegida pelo cálice da verdade, no qual bebeu todo o veneno guardado para si, tenta encontrar a melhor saída. Não há retorno, muito menos salvação. Agora não aguenta mais esperar. Afinal, como poderia? Se ao menos entendesse o que se passa. Se ao menos descobrisse se seus olhos ainda brilham pela rosa candente. Se o presente fosse desmanchado e reconfigurado ou até mesmo se escutasse aquela melodia.

Ou não. Já não há resposta correta. Apenas questões a serem respondidas por um destino secreto. E no fundo da torre mais alta agora guarda a sua própria chave. Uma que pensou que jamais existiria. Uma que um dia pensou ser feita de fel, de melancolia, mas não. Esta é máxima proteção. É a absoluta convicção que dor alguma poderá brotar no seu coração rasgado. 

Depois vem a mudança, o silêncio, a espera. Depois vem um pouco de sonho, de ilusão, de tintas que passam por todos os caminhos, que pintam todas as estradas amarelas. Suspiro. Respira. Perguntas sem respostas. Queria mesmo era gritar, mas sem ouvinte algum ao seu redor resolve se calar, evitar mais conflitos, mais problemas. Por isso precisa seguir, mas sem mais exigir, sem mais pesares, sem mais dramáticas situações, sem riscos, sem prantos. Um mundo no qual existe apenas o encanto de ser quem realmente é. Para o resto, somente o fim ou um eterno recomeço.

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