sábado, 4 de agosto de 2012

Precisa


Queria escrever para sempre. Mas até as palavras secam quando os olhos fitam o mistério de sentir e sacrificar o mais profundo calar da mente em devaneios. Sim, eles são conscientes, por isso escreve. Para purificar os danos, os erros e prantos de uma vida sem a melancolia de ser quem é. Talvez um encanto e outras sensações purifiquem a madrugada. Mas não. Errou. E sabe que o erro toca levemente a pele e a mente em segredos não revelados.
 Escutou sua voz. E sabia que não era para acontecer. Mas procurou o abismo porque queria sentir. Porque ensinaram assim. Ou talvez porque se tornou o mostro que jamais queria ser. Diz tudo para amanhã não quebrar promessas. Não há porque esconder. Sua fala rasga o coração santificado. E escuta de longe o príncipe cantar. Pois este deus banha suas noite com a fumaça e a escrita. Somente ele saberia. E ele nem mais existe. E esta história, longa e demorada também não mais existe. Nada é real. Somente o desejo de ser. De crescer. 
 Hedonista sim. Leviana, talvez. Porém a verdade escorre de seus lábios e queima por dentro qualquer semblante que virá. Porque este sim mostrará a verdade. Aquela que todos já sabem. Os caminhos tortuosos já revelaram que o sacrifício nunca compensa. Mas faz de novo. Mas erra de novo no mesmo ponto. Na mesma questão.
 Agora é hora de guardar. Sabe disso, mas regressa para a mesma estrada. Precisa guardar as emoções. Precisa ser menos intensa. E sua luz se parte em mil pedaços, enquanto as lágrimas não chegam. Enquanto escreve para o nada. Ou para ninguém. Ou era para ser outra canção. A véspera de uma nova emoção que expurga a danação. A recordação. 
 E lembra. De cada uma delas. De todas. E deixa que venha. O pranto. E deita no amistoso ombro. E relata. Outra vez conta em detalhes seus sentimentos. E esses versos em prosa escritos delatam ainda mais a real verdade. Corre. Corram todos. Que os gritos vieram e eles foram banhados de ventania. E jamais saberá. E nunca saberão o que jaz no coração de um tolo poeta morto. Porque o cobriram de flores. Porque a terra esconde as promessas. Porque viu e soube que nunca mais paz alguma seria encontrada.
 Seu rumo. Seus brios. Seus. Suas. Palavras em vão que se dilaceram quando o último suspiro é dado e nunca mais se ouve a voz de poeta algum. De pessoa alguma. Por isso reconhece em si a verdade. E dirá sempre, ela, a verdade. Dirá até que seque toda a saliva, até que respire pela última vez. Então, pergunte. Então, não minta. Então, seja o monstro que disse que é. Então, não venha. Então, se cale. Então, será, para sempre. Para todo sempre. Inteira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário