terça-feira, 21 de agosto de 2012

Felicidade


 Há um paraíso onde a escrita se deita sobre um coração candente. Há sim um lugar para visitar. Depois de fugir de um horizonte flamejante. Depois de conquistar a liberdade. De uma emoção. De sensações. De sentimentos. 

 E existiu uma missiva jamais entregue. Os corvos sagrados a devorariam com gargalhadas cruéis. Sim. Sabe. De tudo. E um pouco mais. Um pouco mais de versos sublimes. E a narrativa continua. Não se quebra. É como uma mágica jogada em sua ventania. Mergulhada num caldeirão de palavras. Sim. E não. A vontade era gritar a verdade.

 Não. A verdade era olhar nos olhos e dizer tudo de uma vez. A madrugada sela pactos eternos. E não adianta mais dizer que os sinos não tocaram assim. Não. E se enche de não para dizer um último sim. Talvez em outra vida. Quando forem gatos. Quando se encontrarem no momento certo. 

 Porque era. Foi. E não mais. Sim, nunca mais será. Em seu coração, em algum lugar, todas as respostas brilham. Cristalinas sorriem. Porque os olhos não querem enxergar. Mas alma sempre entende. Todas as tempestades foram reais. Ainda reclama, pois não consegue esconder a verdade. Essa é sua. E façam. E usem. E voltem para nunca mais. Para o nunca que jamais virá. 

 Somente o príncipe, a fumaça e o vento compreendem. É mais fácil. Jogar a culpa na ventania. Sua pele já foi condenada a lamentar. Sorri tolamente. Agora eliminou qualquer certeza. Agora vive como aprendeu. Agora sabe seguir e trilhar novas etapas. Agora sabe viver sem aflições corriqueiras. Não atende um pedido qualquer. Senti-se livre. Para voar.

 Honra. Vontade. Desejo. Concupiscência. Todas. Juntas. Num mar revolto sem ilusões. É. É verdade. Se as unir explodirão de júbilo. Sua máscara já caiu faz tempo. Sua língua já secou todo o veneno de amargura que restava em seu sangue. As voltas celestiais do mundo devolvem a relutância em ver o óbvio. Cresceu. A menina da janela rompeu todas as grandes e flutuou. Invadiu. Pintou. Tomou. E quase alcançou. Uma chave trancafiada em algum lugar. Nunca encontrou.

 Foi o melhor e o pior. Trouxe sim. Por que não? E em uma semana precisou confrontar todas as melodias que escutou. Sim. As canções tocaram outra vez. E não acreditou. Em seu diário digital escreveu sobre cada história. As narrativas divinas. Alguns fracassos. Ainda assim, alegrias. É. Porque viu e soube.

 Pensou? Não pensou. Nem tão pouco premeditou reencontros. Mas o destino traz de volta. Lancinante. Translúcido. E jogou outra vez para fora. As palavras. Disse quase tudo para todas as músicas. Guardou apenas uma. 

 Em seu coração e  na alma sente. Sente que segue pela estrada certa. O rumo da prosa se desvia. É. Sempre assim. Na verdade, queria uma única resposta. Se a tivesse teria dito. Todas as metáforas perderiam o sentido. E a missiva guardada precisa ser queimada. É um laço que decora o pescoço. Perto para ser apertado. É um nó na garganta. 

 E se ao menos enfrentasse. Se ao menos olhasse. Aberta. Sempre. Para todo sempre. E se realmente quiser perguntar, pergunte. Venha. E diga. Venha. E pergunte. Venha e fale tudo. De uma vez só. E a lança se partirá. Se a outra dos fios reluzentes fosse menos arredia. Se aquela do olhar quase esmeralda a calasse com um beijo. Se a fada não errasse tanto num outrora perdido. Se o gosto da falsa princesa fosse sentido. Se ao menos fosse. Se tudo existe. 

 E nada. Será. Nunca. Pois tudo que o destino lhe oferece não se coloca para o outro lado. O de fora. Sim, o de dentro. Esse que fica próximo e habita sua realidade. E não era nada disso que precisava dizer. Talvez. Não mais entende a razão de se denunciar. Mas é preciso expurgar em algum lugar. As confusões. E como seu amigo leãozinho diria. Cada dia uma lamentação ou feliz constatação sobre um novo amor. 

 A verdade é essa. E a felicidade está nisto. Sim, está. Sim, é. E sempre será. A fada que emana luz. Cumpre promessas. Sela pactos. Recita poemas para amores. Entrega flores. Escreve missivas. Canta. Corre num dia de chuva e engarrafado, somente para conversar e olhar nos olhos. Que diz tudo o que pensa. Ainda que depois riam. Dela. Ainda que todos a empurrem para um precipício sem volta. Pode apenas dizer que já pôde entender. Depois de ler. E só assim defender. Tudo aquilo que um dia chamou de seu. Por isso a letra persegue tanto. Porque pertence ou pertenceu. 

 Sem fim. Reluzente ou não. Às vezes doce ou infinitamente enobrecida de luz. Sua cálida lua branca, sua flor. Suas doçuras. Os momentos. E agora quer quebrar os encantos para trilhar rumos maiores. Passos.  Mais passos. E crescerá ainda mais.

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