terça-feira, 28 de agosto de 2012

Devaneios Conscientes

 O tempo gira em uma ampulheta feroz. Como se nunca fosse parar. E nunca cessa. Será sempre assim. Ciclo atrás de ciclo. E as lembranças que insistem em fisgar a mente. Sim. Pois aquela menina ainda ronda. Aquela bem parecida com a da Valsa. Seu coração em flamas deseja respirar os ares de uma liberdade que nunca veio.
 Chega sim, de leve. Contudo é como um relâmpago numa tempestade enfeitiçada. A lealdade ritmada de um beijo. A doce nuvem que dispara a pulsação da alma. A ventania que brinda por sua nova jornada. A alvorada púrpura que congela os movimentos. Os sentidos inexistentes de uma melodia infinita. E toca. E roda. E sente. E roda outra vez. Como numa roda gigante que jamais cessa.
 Sua face era pálida, seus dias cinzentos, seu medo calava o seu verdadeiro eu. Este que queria gritar. Era como uma volta sem fim de erros. Como um sopro singelo da sorte de ter o que possuía. Era a música singela. Era embriagado de luz. Era véspera de espera, nos mais revoltos mares de melancolia.
 O vento passou. Assim como a neblina. A saudade levou as horas incontáveis dos dias. Sussurros elevados em plena tarde que não adormecia. A tarefa completa de ser uma que foi para sempre. Grudada em sua pele. Eterna na memória. No balanço sentava e a viagem era completa. Agora, escárnio. E tudo que foi já era para ter sido. Quando a lágrima não veio, soube a razão da sua existência. Quando tentou regressar, já não era mais possível.
 Quando os pássaros cantam, cantam mais uma vez aquela música que somente no amanhecer viria. Aquela que era somente encanto. Poemas em prosa, jamais decifrados. Calor e calma dominam os dias. Os cálices passam transbordando loucura. E sempre soube a batida de sua aura. E nunca esquece o sorriso gritado. Talvez uma gargalhada. Uma porção delas. E sol brilhava em sua face rosada. 
 O céu exclamou que o destino estava traçado. Assim, então, seguiu seu caminho com outros versos. Ao ler, outra vez as dúvidas afastaram qualquer lucidez, substituída pela embriaguez. Depois viu a solução almejada. E somente assim, então, pôde respirar tranquilamente. Agora escuta a mesma versão, do paraíso encontrado no que resta de certeza em si. Pois nunca encontrará a resposta do enigma, de tão belo texto ou somente de um pretexto. E seu perfil passa entre as flores. Cegas. Intactas. Singelas. Puras. Rubras. Castas. Intocáveis. Inigualáveis. Insignificantes. Repressoras. Solitárias. Calmas. Inebriadas. Suspeitas.
 Todas. Uma. Somente. Candente. Sorridente. Complacente com os próprios delitos. Nem tão graves assim. Talvez. Ou não. Ou tudo. E nada. No espaço das letras. Na margem de um rio. No soar de um sino. Na madrugada infinita. Na simples sinfonia. No caos eterno das dúvidas. Porém, não escapa das gargalhadas de sua vida. Repleta de alegrias, de sons que jamais escapam. E das visões dos melhores encontros. De participar dos mais belos momentos. Apenas escreve sobre algo visto. E assim termina mais rima para sua melodia. Acaba, assim, mais um ciclo vivenciado.

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