terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Ébrio

 
  Procurou em todas as bocas. Em todas as estradas. Caminhos possíveis. Que queimassem a solidão interminável. Com todas as forças quis acreditar que a verdade selada é a mais sincera purificação. Seu veneno tornou-se ela e fez disso um ideal. Marcada assim, viveu. Não apaga da memória qualquer recordação e sente. Sente que o abismo está logo ali, na próxima esquina da escuridão.
  A lua brilha mais do que nunca. Não há maior luminosidade. O vento se esconde e esta é a sua única protetora. Com raios faiscantes e uma bela canção de fundo. Ainda perdida. Sem os fragmentos recortados da alma. Sem saber. Entender ou alcançar. O rumo perdeu-se com a voz. Inebriada de encantos e chamas. Deixou-se levar. Mas entende a razão de tanta euforia. Seu coração descompassado precisa de festa. Do novo.
  Esta que fala. Cansa. De tudo. Sempre. Reclama. Tédio e mais sussurros. Na multidão devassa. Sem pensamentos lógicos. Ou talvez um pouco de rimas elétricas. Onde a flor derrama o cálice em manto cristalino. Ou a fada perde a luz entre a neblina de desejos alheios. Se a vida não é filme, um romance de quinta é que não vai ser. Se as palavras valessem um pouco mais, o ouro surgiria de seus flamejantes veias.
  É desse caos que precisava. De uma risada longa e soturna. De pássaros que cantam e assobiam quando aquele exato amanhecer chega. E proclama o dia novo que virá. E expurga metáforas. Corre. Alcança e vê naquilo a realidade. A praticidade está posta. Simples. Palpável. Porém triste. Afinal para as pequenas o maior é inatingível. O refletir de um gesto corriqueiro. De um sorriso malicioso. E o final todos já sabem. A cama foi coberta. As flores jazem na imensidão de uma areia profana. As exigências tocam nos amaldiçoados sinos dos impuros que dividem o mesmo sangue. Na janela, as lágrimas por ver a dor de um desconhecido. A luz apaga. Já não é mais necessária.
   Arranca do coração amarguras. Júbilo. Estrelas. Cantos. Convites. Escritas. Qualquer pedaço de um momento insano do próximo devaneio. A lucidez é a besta mais celestial do portal candente da sorte. E na mais ardente passagem para o porto mais insensato é muito fácil agir. Basta pular. A concupiscência culpada e ingrata. E os risos ébrios ascendem a esperança. E enxerga no final das brumas cinzentas o reluzir de uma aurora abençoada.

Um comentário:

  1. Concordo, florzinha. Mas vamos escrever sobre algo feliz. ;) Vc é linda demais pra se lamuriar.

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