terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Mar

 
 Mais um pôr do sol desliza em sua melancólica face. Gritos. Afazeres. Sussurros. Ainda não houve quem a despertasse. São chamas num infinito horizonte recortado. Pequenas salvações. Conflitos. Mais um amanhecer e as aventuras fantasiosas cumprem a função prometida. Não há salvação. Existe o fruto. A  moradia incerta. A paixão criada.
 O florescer de um retornar impreciso. Clama pela felicidade. Acorrenta-se na tristeza. Sua face engana. Sorriso. Polidez. Desfaçatez. Gargalhadas ao luar numa varanda não muito distante. Correu. Viu serpentes. Fantasmas. Passado. E a imagem de uma lembrança que ainda a prende em esmeros seletos. A chama expurga. A boca devora. Seu pescoço implora. Teu ventre é impuro. Teu sangue veneno. Não cumpre promessas. Não repete palavras. A santa. A menina da janela. A espera do cavaleiro encantado.
 Brumas. Silêncio. Mais uma aurora que escorre na alma. O coração dispara. Os passos lentos já chamam por mais pranto neste novo começo. Busca. Quer. Deseja. A fantástica sensação. Não pede mais nada. Um gole de tinta. Um murmúrio. Partiu com a reluzente madrugada. Restou o nada. A solidão finca a certeza. Duvida. Se sente. Se algum dia mudará. Nunca ocorreu. 
 Adapta-se. Reage. Sabe sim. Que jamais viverá se não abandonar padrões. E ri tolamente desta verdade. Sua lança é a sorte. Seu punhal a canção. Que toca em rodopios alucinantes em sua insana mente recuperada em fragmentos. Recorre ao lírico garoto de outra história. Conta o caos. Somente este sabe o que mora nesta prisão de impunidades reclamadas. A chave está consigo não com a dona da torre, como antes pensava.
  Nunca será resgatada. Criou o labirinto. Separou o espaço. Agora voa em direção de outro tempo. Outra jornada. Júbilo correto é expurgar tormento rancoroso em uma dor ainda maior. E nunca haverá. Nunca. Para sempre será a garota da ventania dilacerante. E assim como o vento, percorre o mundo sem se apegar. Sem medir a escrita. Sem pensar em riscos. Corajosamente carrega em vão a sede e a vontade de possuir todo o sentimento do universo.

2 comentários:

  1. "Adapta-se. Reage. Sabe sim. Que jamais viverá se não abandonar padrões."

    Muito bom,eu particularmente sou suspeito em falar dos seus textos...é como lhe disse...as vezes preciso ler o mesmo duas vezes pra entender...a riqueza de idéias e pensamentos que você traz consigo,as vezes em uma única frase é imensa...você é diva,enfim. :P

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  2. Dupla inspiração, inspirada (com o perdão da redundância). Minha linda escreve com alma de artista, um poeta em renascença.

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