quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Um grito. Um silêncio.

  Há tanta raiva que inflama os pulmões. Uma vontade enorme de gritar. São tantas ordens, leis, sentenças. Era mais fácil inutilizar sua alma e reconstruí-la. Não existe forma de moldar-se para agradar cada pessoa que importa. Porque ainda tem os que não importam e clamam também. É desnecessário, cruel, impiedoso. A certeza de que a felicidade é impossível machuca infinitamente.
   Solidão é seu futuro. Pois se as setas apontam em direções opostas o rumo é somente desgosto. Luta. Sim. Bravamente tenta não perder os que a cercam, mas só encontra derrotas. Fatalista? Talvez. Só dúvidas pairam enquanto escreve. Tormento sem fim. E seus problemas de nada servem. São migalhas. Nada. Diante de um mundo cheio de misérias. E deixa a infelicidade tomar conta de seu coração. Por isso vem o tédio. Não sabe. A lança dilacera suas forças. A dor. O vazio. Um rumo lento e despercebido. Ainda há a nostalgia que insiste em aparecer em sua perdida mente.
   Se outrora foi belo, por que no passado não sentia tudo isto? Não aproveitou nem o antes, nem aproveita o agora. Palavras e mais palavras. E nada muda. Só os anos que passam. É a mesma vida. Outras faces.
    Corre. A menina corre desesperada. Sem rumo. Sem certezas. Só com o peito apertado e a fumaça para inebriá-la.
    Enquanto sorri, sua alma chora. Porque não há nada que a machuque mais do que o desdém. Arma letal, fatal para seu descompassado ser soturno.
    O vento vem sim. E ela deleita-se. São eles seus companheiros. E mais nada. Porque o caos a sua volta faz crescer um medo interminável. Quer não perder e é sempre deixada. Quer voar e não pode. A liberdade nunca chega. Os pedidos não são revelados. É a pura e cristalina verdade que sai de suas mãos. Agora. Neste instante. A menina quer gritar. Enquanto todos murmuram. Enquanto a vida passa. Não quer mais torres, cadeados, insistências, cobranças. Quer que desapareçam rancores. Quer implorar para ser ouvida. Mas, quando fala as palavras tolas afundam seus pensamentos.
   Suspira. Respira. Está tudo de cabeça para baixo. E sabe que sorrir e acenar é mais fácil. Porém, queria parar o tempo de vez. Recomeçar tudo. Reviver algumas coisas.
   Cada um que pede. Cada um que grita, briga e não enxerga. A sua força é disfarce. A mágoa é só de si. O vento é seu protetor. A madrugada seu consolo. A solidão é quem a persegue. A fumaça é a inimiga mais fiel, ainda assim necessária.
   Os dias passam lentos. A angústia é insensata. A vontade é esquecida. O retorno jamais alcançado. A promessa quase quebrada. A súplica não escutada. O dia que se aproxima. A maior certeza que não regressa. A paixão que se desvenda, talvez esta ainda seja um bálsamo. As faces. Rodando. Girando. Faces. Vozes que em sua frente repetem. Reptem. Repetem. Você não entende. Nunca poderá entender. Somente escuta. Engole o pranto. Continua. E assim que a última palavra sair, sorrirá. Enquanto o resto desaba, dentro de si.

Um comentário:

  1. É difícil tecer um comentário sobre este texto, porque ele guarda em si um mistério muito grande. Isso inclusive é uma coisa bonita. Então, irei deixar um texto que escrevi há algumas semanas atrás, que está alinhado com esta temática, creio que você possa gostar: "http://umanonimoqualquer.blogspot.com/2011/09/prosa-sobre-um-dia-frio.html"
    ^^

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